Artigo:“O meu livro quer outro livro” de 9 de fevereiro - “Notas sobre a obra de Manuel de Arriaga”

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Em 9 de fevereiro de 2017, aconteceu mais uma sessão de “O meu livro quer outro livro”, organizada pelo Departamento de Aposentados e pelo Departamento da Cultura do SPGL.
Dada a existência de várias atividades, a sessão decorreu numa sala que terá, em média, lotação para vinte pessoas, mas o interesse levou a que quarenta atentos colegas se “aconchegassem” no exíguo espaço. E valeu a pena.
O tema, “Notas sobre a obra de Manuel de Arriaga”, foi brilhantemente tratado pela colega Delfina Porto. Engenheira química de formação académica, foi o amor dedicado à sua terra, a ilha do Faial nos Açores, que a levou a interessar-se por esta personalidade, a que não está alheio o facto de se tratar de um homem de ideais democráticos, de valores e de caráter.
Como disse a oradora, não é fácil falar de “um homem frontal, justo, pacífico, religioso e com o dom da palavra”, que cedo começou a pagar o preço dos seus ideais.
Não vamos poder reproduzir o manancial de informação que Delfina Porto recolheu, tratou e nos transmitiu de forma organizada, clara e afetuosa, motivando a nossa admiração por Manuel de Arriaga, 1º Presidente da República Portuguesa.
Só serão referidos breves dados biográficos que contribuam para desenhar o perfil da sua personalidade, durante muito tempo esquecida e tão significativa para afirmação da nossa democracia.
Monárquico de família nobre, nasceu e viveu no Faial, numa época em que a taxa de analfabetismo era muito elevada, recebeu uma educação primorosa, em casa e frequentando teatro, sessões de música e poesia.  Afasta-se dos ideais da casa materna quando vem estudar para Coimbra. Dedica-se à causa republicana.
Integra a equipa do jornal “A República” e subscreve as Conferências do Casino. Tendo sido preterido em algumas funções a que concorreu, veio viver para Lisboa e aí se instalou como advogado e professor de inglês.
Recusa o convite para ser professor dos Príncipes, porque isso era contra os seus princípios políticos.
Foi o autor dos documentos fundamentais do Partido Republicano Português.
Manuel de Arriaga teve uma atividade permanente pela causa republicana. Chamavam-lhe ”o defensor do povo, o apóstolo da liberdade”. De 1890 a 1892, deputado por Lisboa, fez os seus discursos mais críticos em relação à monarquia.
Começou a desiludir-se com o mundo da política, até mesmo com alguns companheiros de ideais.
 Dedicou-se, então, mais à advocacia e à poesia, aos seus livros.
Pelo seu prestígio, chega a ser Procurador Geral da República e Reitor da Universidade onde exerceu a influência do seu pensamento.
  Em 1911 é eleito 1º Presidente da República Portuguesa tendo nomeado oito governos constitucionais.
Em 1915 pede a demissão e retira-se.
O seu espólio esteve guardado na família perto de 80 anos.
Hoje os seus restos mortais encontram-se no Panteão Nacional.
Foi patrono do Liceu da Horta e ainda hoje dá o seu nome à Escola Secundária da cidade.
Estas são algumas das informações respigadas do que ouvimos a Delfina Porto. Ela soube evidenciar a inteligência, o caráter e os ideais do homem por trás da figura pública.
O jornal O Mundo, que tanto o tinha criticado, afirmou, no fim da sua vida, que “os seus serviços à causa da liberdade foram enormes e não se apagam da história da emancipação portuguesa” (1917).
Delfina Porto fez notar, a partir de um texto inserido na reedição dos sonetos, intitulados Canto do Pico, que os mesmos espelham a história da República Portuguesa, na procura de um ideal de justiça e de uma nova moral, retomado no seu segundo livro ”Cantos sagrados”, produto das meditações do autor ao longo de trinta e dois anos. “Harmonias Sociais” são uma síntese do pensamento de Manuel de Arriaga.
Delfina Porto terminou a sua exposição apresentando algumas fotografias do Pico e Faial, denunciando o amor pela sua terra e o orgulho pelo ilustre conterrâneo.
 Obrigado, Delfina Porto.
Na 2ª parte da sessão, intitulada “Lemos… mas também tecemos… Arte das rendas de gancho”, a colega Maria do Carmo Ângelo ensinou-nos a trabalhar a linha como faziam as nossas avós, tecendo peças maravilhosas. O tempo era pouco. Ficou a promessa de uma nova sessão.