Artigo:"O MEU LIVRO QUER OUTRO LIVRO" com Margarida Tengarrinha a propósito do seu livro “Memórias de uma falsificadora”

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"O MEU LIVRO QUER OUTRO LIVRO" com Margarida Tengarrinha a propósito do seu livro “Memórias de uma falsificadora”.

Em 26 de abril de 2018 realizou-se mais uma sessão de "O meu Livro quer outro Livro", iniciativa do Departamento dos Professores e Educadores Aposentados e Departamento da Cultura do SPGL.
Esta sessão contou com a presença de Margarida Tengarrinha, autora da obra “Memórias de uma Falsificadora, a Luta na CLANDESTINIDADE pela LIBERDADE em Portugal”.
Helena Gonçalves fez um breve ponto da situação sindical e referiu datas que exigem a presença de todos para o reforço da luta.
Natália Bravo apresentou um vídeo sobre a convidada, de que se salientaram frases que definiram a autora como sendo” uma memória viva de alguém que sempre lutou pela paz”.
Ouviu- se a canção de Zeca Afonso” A morte saiu à rua num dia assim…” e foi citada uma frase com que Margarida Tengarrinha define a sua vida: “Escolhi o melhor caminho, não voltava atrás”.
Fernando Mão de Ferro, o editor da obra, apresentou Margarida Tengarrinha, como sendo uma verdadeira heroína do nosso tempo e saudou o SPGL, por ser este um grande momento em que o nosso sindicato pôde contar com a presença da autora. Afirmou que este livro revela o seu percurso de vida, referindo o trágico momento do assassinato do seu companheiro José Dias Coelho. Valorizou ainda a personalidade desta lutadora que, quase a completar noventa anos, nos transmite uma alegria contagiante quando conversamos com ela.
Margarida Tengarrinha iniciou a sua intervenção agradecendo o convite do SPGL, onde se sente em casa uma vez que, também ela, é aposentada e professora.
Explicou o título do seu livro. Ele pretende “vincar que o que é jurídica e legalmente considerado um crime pode ser considerado o oposto. A lei depende essencialmente de quem tem o poder. De que perspetiva se encara a falsificação?”
É no seu livro que encontramos as respostas para a questão referida. Uma vida de longos anos de clandestinidade e luta contra o fascismo deixa-nos entender por que Margarida Tengarrinha e José Dias Coelho apuraram o engenho e todo o saber adquirido em Belas Artes. Ao serviço da luta pela liberdade viveram anos de sobressalto criando instrumentos que tornassem possível a circulação de camaradas seus, elementos do Partido Comunista Português, sempre os primeiros perseguidos pela polícia política de Salazar.
Margarida Tengarrinha explicou ainda que o seu livro não é autobiográfico: “o que escrevi é um livro de memórias, que por vezes, é autobiografia.” Disse ainda ter escrito sobre factos que não podem ser esquecidos, pretendendo prestar homenagem a todas as pessoas simples que, um dia, serão esquecidas, mas que foram também obreiros da luta pela Liberdade e que foram a esmagadora maioria das pessoas que passaram pela sua vida.
Várias foram as intervenções que se seguiram: Paulo Rodrigues, Faustina Barradas, Maria José Maurício, Helena Gonçalves, Carmelinda Pereira, Dolores Parreira e Natália Bravo.
Ainda, referindo-se à solidariedade durante o período fascista, Margarida Tengarrinha considerou ter sido a Comissão de Apoio aos Presos políticos extremamente eficaz. Recordou ainda o Socorro Vermelho, a primeira organização de apoio aos presos políticos.
Por solicitação de uma das perguntas, Margarida Tengarrinha explicou por que repetidamente tem afirmado que estranhou a forma como foi informada da morte do seu companheiro bem como a dificuldade em ser acolhida, logo após o acontecimento. Recordemos que ambos se encontravam na clandestinidade.
Afirmou ainda a sua indignação perante certa tolerância que hoje constatamos para com figuras da PIDE: “Há um limite para a tolerância. Não compactuo com inimigos da democracia. Há limites intransponíveis. Não trato quem traiu como inimigo mas para os torturadores não há transigência possível.”
José Dias Coelho foi assassinado a 19 de dezembro de 1961, enterrado a 25 de dezembro e só a 26 de dezembro, a companheira foi informada.
Noutra intervenção foi lembrado que, “numa sociedade apressada e sem memória” é interessante, o percurso de Marx e Engels, em Londres, onde foi escrito o Manifesto Comunista.
Considerando que foram momentos únicos, com uma presença única, é importante transmitir a ideia de que vale mesmo a pena que este livro seja lido, mesmo por aqueles que viveram alguns destes acontecimentos. No futuro a História falará dos factos, por vezes não necessariamente, a verdade. Neste livro encontramos o esclarecimento da verdade vivida e partilhada. São lapidares as palavras de Margarida Tengarrinha, no início do seu livro:
“Num país vigiado por uma polícia política feroz, experiente, com uma extensa rede de vigilância focada na deteção dos opositores ao regime e criada prioritariamente para liquidar os comunistas e destruir o Partido Comunista Português, este foi obrigado a criar os meios de defesa das suas organizações, dos seus dirigentes e dos seus militantes, para dar continuidade à luta pelo derrubamento da ditadura fascista. É desses meios que vos vou falar, pois fui uma falsificadora para defender os meus camaradas.”

Veja aqui o vídeo