Artigo:O meu livro quer outro livro - A noite mais longa de todas as noites de Helena Pato

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O MEU LIVRO QUER OUTRO LIVRO
A noite mais longa de todas as noites de Helena Pato


Em 17 de outubro de 2018 ocorreu, no Auditório do SPGL, mais uma sessão de “O meu Livro quer outro Livro”, organizada pelo Departamento de Professores e Educadores Aposentados do SPGL, desta vez tendo como convidada Helena Pato, para apresentar o seu livro” A Noite mais longa de todas as Noites”, publicado em 2ª edição.
Helena Pato, dirigente política da CDE (Comissão Democrática Eleitoral), uma das fundadoras do Movimento Democrático das Mulheres e ativa militante na resistência ao regime fascista. Esteve no exílio durante três anos e esteve presa, pela polícia política, na Cadeia de Caxias, durante seis meses, sempre em regime de isolamento. Fez parte do núcleo de professores que, no início da década de 70, criou e dirigiu os Grupos de Estudo do Pessoal Docente. Foi uma das fundadoras do SPGL, tendo pertencido às primeiras direções. É autora de vários livros e múltiplas publicações.

Para esta sessão, Helena Pato trouxe consigo quatro companheiras de luta: Lurdes Silva, Adelaide Carvalho, Ana Carita e Helena Neves.
A sessão iniciou-se com a intervenção de Helena Gonçalves, que exprimiu a sua satisfação pela presença das convidadas, acrescida, segundo disse, pelo facto de pertencerem à nossa “prata da casa”.
No momento sindical, referiu a iniciativa de 26 de novembro, comemorativa dos vinte e cinco anos do 1º Congresso de Professores Aposentados da FENPROF.
Na troca de livros, Leonoreta Leitão ofereceu ao Departamento a obra “25 de novembro e os media estatizados”, de Ribeiro Cardoso, que será o próximo convidado de “O meu livro quer outro livro”.
Mª José Raposo falou das obras de Elena Ferrante, com relevo para “A Amiga genial”, que considerou “sociológica e politicamente interessante”.
Entrando no tema da sessão, Helena Pato iniciou a sua intervenção agradecendo a todos os que prepararam esta sessão, ao seu editor e a todos os presentes.
Explicitou, em seguida, o significado do título do livro “A Noite mais longa de todas as Noites”, referindo-se à ditadura salazarista de 48 anos e à necessidade de preservar a memória da Resistência desse tempo.
Referiu a sua preocupação por todos os que hoje estão “persuadidos de que o regime fascista não passou de uma dramatização fantasiosa”.
Considerou que embora mantenham uma visão romântica do 25 de Abril, poucos, hoje, conhecem” as lutas de milhares de patriotas, que arriscaram a feroz repressão ou deram a vida. Segundo a autora, a tarefa da Educação nas escolas é dar a conhecer essa memória da resistência.
“… a aproximação (dos alunos) a intervenientes ativos deste período humaniza a História e cria-lhes motivação para pesquisas escolares”.
A autora salientou, no entanto, que, ultimamente, os “media” e especialmente as redes sociais, começam a revelar a importância da “Memória da Resistência”.
Terminou a sua intervenção referindo-se á “importância que teve a luta que se foi travando…para que, um dia os nossos filhos pudessem viver livremente…e bater-se pela conquista total de todos os direitos da cidadania…”
Lurdes Silva saudou Helena Pato e, com ela, todos aqueles que fundaram o Sindicato. Considerou que a escolha de Helena Pato para a direção do SPGL se deveu, também, à sua capacidade de congregar pessoas com pensamentos diferentes.
Salientou o texto “Medos”, revelador de uma realidade presente em todos os que viveram aquela época. Referiu “Alfinetadas”, As Simones”, “Exílio no feminino” e “De cerzideira a auxiliar de limpezas pesadas”, como exemplos da capacidade de energia e determinação de Helena Pato e ainda da alegria que, em “A Noite mais Longa”, está sempre presente no meio das lágrimas.
Lurdes Silva insistiu na necessidade de se “guardar a memória desse tempo como um tempo de medo mas também como um tempo de jovens que lutaram com entusiasmo”. Salientou ainda a qualidade da escrita de Helena Pato, que revela grande domínio da língua portuguesa, apresentando, aqui e ali, “pérolas literárias que despertam em nós emoção e sentido do Belo”.
Adelaide Carvalho salientou o trabalho de Helena Pato na divulgação, na NET, de biografias de antifascistas. Referiu o medo como dominante das vivências daquele tempo em que a pobreza, a subserviência, a beatice e o preconceito eram os eixos que coordenavam a sociedade.
Ana Carita considerou que a obra em análise é “um testemunho de um tempo e um testemunho de uma vida”. Citou Maria Teresa Horta para dizer que a escrita de Helena Pato é “luminosa”. O estilo carateriza-se pela “simplicidade e um humor brincalhão como se o que ali se relata não fosse heroico”. As histórias refletem a repressão, a censura e a tortura que destruíram a vida de muitas pessoas. Perpassa, contudo, a ideia de que “não obstante o terror, não há rendição”.
Há um testemunho das modas e normas do tempo e muito da autora se revela” numa boa dose de ilusão sobre a vida e a sua grande convicção na capacidade de mudar o mundo”. Cedo chegou à cidadania e nela tem permanecido toda a sua vida.
Helena Neves salientou o modo como Helena Pato transmite a realidade de uma época em que a felicidade era envolvida pelo medo e a coragem nascia também da cumplicidade feminina. Referiu a sua convicção de que esta será a primeira de muitas obras que Helena Pato terá de escrever, para que sejam conhecidas as marcas que as ditaduras deixam nas vidas das pessoas. Segundo disse, este livro é um relato de “uma vivência pessoal que reproduz a vivência de muitos de nós”.
 A sessão foi muito aplaudida e seguida do habitual lanche “comunitário”, momento de convívio, alimentado por mimos que, voluntariamente, são trazidos por alguns colegas.