Artigo:“O martelo de Thor”

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“O martelo de Thor”

Esta não é propriamente uma “notícia do dia”, antes remete para um grande artigo de opinião de Pacheco Pereira, publicado no passado sábado no jornal “Público”, intitulado “O martelo de Thor”.

É um texto lúcido, pessimista também, mas uma reflexão que aponta caminhos num período confuso, difícil e muito desafiador como é aquele em que estamos a viver. Começando por apontar muitos aspectos do nosso atraso e da nossa dependência do exterior, José Pacheco Pereira contrapõe o(s) nosso(s) valor(es) que, no entanto, “não coloca o pão no prato ao fim do dia”. O quadro de atraso e de dependência que era pré-existente e não por efeitos da pandemia, não vai ser ultrapassado pelas “ajudas” da Europa, as quais, como sempre, respondem a certos interesses, que não vão fazer com que as exclusões deixem de existir. Não são os slogans da “transição digital” ou da “economia verde” nem a maravilha do mundo digital que por si só vão resolver os problemas de ordem social. “A pandemia e as aulas à distância revelaram uma enorme percentagem de estudantes sem acesso à internet, e sem acesso a computadores, e aí a “transição digital” é um enorme benefício. Mas se se começar a entender que a comunicação digital e o acesso digital se farão pela retirada do ensino da relação com um mundo em que somos analógicos, e pensamos de forma analógica, e os nossos sentidos são analógicos, então, com muita luzinha e animações e virtualidades, entramos numa forma de escolástica muito pobre”.

Refere a seguir o crescimento de uma “ignorância agressiva” que se está a tornar um problema social e político muito grave. A influência do populismo é muito forte, reflectindo-se na dificuldade cada vez maior de as pessoas distinguirem o que é verdadeiro do que é falso, nas ideias que põem em causa a ciência e nas teorias da conspiração largamente difundidas. Tudo isto traduz um retrocesso civilizacional e um risco para a democracia.

Hoje, em Portugal, enfrentamos o desmoronar de um mundo virtual e de uma economia que não era sustentável. Há que arrepiar caminho e apostar naquilo que verdadeiramente conta: robustecer e reforçar o SNS, tornar universal o acesso à internet, apostar no sistema ferroviário que responda a todo o país e assegurar o direito universal a uma habitação digna e decente. “Vão querer fazer cinco mil coisas, mas, se fizerem cinco, já valeu a pena a martelada do Thor”.

Almerinda Bento