O inegável
A minha escolha para a Notícia do Dia recai na notícia do jornal «Público» de hoje assinada por Clara Viana, com o título “Alunos carenciados ficam sempre atrás dos mais favorecidos, mesmo com meios digitais”. Um título longo que reforça uma constatação dos/as profissionais da educação relativamente aos seus alunos e alunas, antes e depois da pandemia. O estatuto socioeconómico pesa nos resultados dos alunos, independentemente dos meios a que tenham acesso. O ensino à distância agravou o fosso e não foram/são os meios tecnológicos que alte(ra)ram este padrão. Por fim, a presença do docente, sobretudo nas crianças de idades mais baixas, é muito relevante para mitigar os efeitos do contexto socioeconómico de que provêm.
Esta notícia decorre da sessão em que João Costa secretário de Estado adjunto e da Educação apresentou as conclusões do IAVE – Instituto de Avaliação Educativa – sobre os resultados das provas de aferição realizadas em Janeiro deste ano, aplicadas a 24 mil alunos de 313 escolas, incidindo sobre a literacia em leitura, em ciências e em matemática, a alunos dos 3º, 6º e 9º anos. Cruzando estes resultados com os inquéritos sobre o contexto socioeconómico destes alunos que então foram aplicados, ficou claro como o peso das carências socioeconómicas é determinante nas aprendizagens das crianças.
Também em Junho deste ano, nas provas de aferição a que foram sujeitos os/as alunos/as dos 2º e 8º anos em Matemática e em comparação com as provas feitas em 2019, verifica-se agora um acentuar dos alunos que falharam em todos os domínios avaliados. Os gráficos que acompanham esta notícia do «Público», que comparam os resultados em Matemática em 2019 e 2021 e relativamente aos alunos do 2º e 8º anos, permitem visualizar os efeitos nefastos da pandemia nos desempenhos dos alunos, sobretudo os do 1º ciclo.
Se não queremos daqui a dois anos repetir esta notícia que mostra como a desigualdade social impera e tem efeitos inegáveis que se reproduzem desde a mais tenra idade, temos de exigir dos governos condições de vida, de trabalho e de remuneração dignos e aceitáveis para um desenvolvimento das crianças em igualdade de oportunidades tão propalada, mas efectivamente tão distante na realidade.
Almerinda Bento