“O grande tempo da obra de Agustina é o que está para vir”
Folheio o “Público” à espera de inspiração para a Notícia do Dia. Nada sobre Educação, as loucuras do fim-de-semana no Porto já são residuais, de congressos só se fala do Congresso Ibérico a Bicicleta e a Cidade que vai ser em Barcelos, a possibilidade de Netanyahu poder sair de cena, o aquecimento global e as mortes ligadas ao calor, algumas folhas sobre Cultura… e a necessidade de voltar a folhear com mais detalhe o jornal à procura de inspiração. Alguma notícia terá interesse para ser referida. Escolho então esta com o título que aqui trago, na secção Local do jornal “Público”.
Está a fazer dois anos da morte da escritora (3 de Junho de 2019) e este é o ano em que faria cem anos. Tal como os meus pais! Fora as homenagens de que Agustina não gostava, é justo que ela seja celebrada e, sobretudo, a sua obra que, como ficamos a saber pelas palavras de Mónica Baldaque, sua filha, há “muita gente nova a descobrir Agustina”. Sendo uma escritora do Porto e do Douro, Agustina gostava muito de Lisboa e a cidade vai dar o nome da escritora ao salão nobre da Biblioteca Palácio de Galveias, a partir da próxima quinta-feira.
Quando folheamos Histórias da Literatura Portuguesa, verificamos que muitas mulheres escritoras ficaram esquecidas, foram apagadas da história, ou, com muita sorte, apenas nomeadas, como se não tivessem dado importantes contributos na época, apontando caminhos para o futuro. Maria Browne, Maria Peregrina de Souza, Ana Plácido, Maria Antónia Pusich, Guiomar Torresão, Maria Amália Vaz de Carvalho, Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Ana de Castro Osório, Angelina Vidal, Alice Moderno, Judith Teixeira, Maria Lamas, Maria Archer… quem as leu? Muitas delas foram esquecidas porque, na sua época, ousaram sair do padrão de mulheres apagadas, submissas, domesticadas. A ditadura silenciou tudo o que não correspondesse ao ideal da mãe/esposa extremosa. À democracia impõe-se resgatar o papel dessas mulheres escritoras e sobretudo a sua obra. Muitas delas deram nome a escolas, liceus, ruas, mas as nossas escolas continuam a ensinar os grandes vultos da literatura como se eles fossem maioritariamente masculinos. Há que desocultar essas mulheres esquecidas da nossa literatura. Acredito que isso irá acontecer.
Tal como Agustina ficaria contente por saber que o salão nobre da Biblioteca Palácio de Galveias em Lisboa vai ter o seu nome, mais feliz ficaria que o seu nome fosse conhecido pela leitura e conhecimento da sua obra.
Almerinda Bento