O foco
O episódio que envolveu recentemente o ativista Mamadou Ba, é um bom exemplo dos dias que correm e, se quisermos, atira-nos para a necessidade de atentarmos um pouco mais ao discurso de treinadores e jogadores de futebol.
O foco. Centrar ou recentrar a nossa atenção no foco é uma ideia recorrente nas intervenções das pessoas ligadas ao desporto em geral e, dado o mediatismo, ao futebol em particular... Na minha perspetiva é o que nos faz falta e é o que, quase sempre, não temos conseguido fazer.
Numa altura em que a pandemia condiciona toda a nossa vida, à escala mundial, desviarmos a nossa atenção, focando-nos, ou sendo levados a focarmo-nos, numa petição que visa a deportação de um português afrodescendente é, no mínimo, bastante revelador de um país míope, que não consegue focar-se no que verdadeiramente interessa, no que substantivamente condiciona a nossa qualidade de vida.
Os despedimentos e o desemprego, a lay off e o teletrabalho, as vacinas e as farmacêuticas, os planos de vacinação e o SNS, a fome e a pobreza, o tele-ensino e as suas consequências futuras, as tendências demagógicas e antidemocráticas dos nossos governantes, o exacerbar do racismo e da xenofobia, entre tantos outros problemas com que nos deparamos quotidianamente e que aparecem desfocados aos olhos de muitos, com responsabilidades várias em Portugal, são de tal forma mais relevantes na vida de todos nós que nos devem envergonhar todas estas tentativas de empolar situações artificiais, neste caso motivadas pelo ódio racial, sem importância alguma para aquilo que realmente nos interessa,
Ricardo Furtado