O espírito do Manelinho é que comanda a vida
Refiro-me ao filho do merceeiro, sempre de lápis na orelha, criado por Quino, esse Argentino que nos topava muito bem.
De facto não aprendemos nada com a inspiradora Mafalda e, para mal dos nossos pecados, se os há, continuamos agarrados ao provincianismo medíocre e ganancioso que norteava o filho do emigrante Espanhol. Sim, também neste pormenor, Quino não falhou nem um grau.
Se bem atentarmos no que ultimamente nos tem calhado em sorte, à escala Planetária, rapidamente nos apercebemos que os Manelinhos deste Mundo nunca deixaram de ter o lápis sempre à mão, prontos para dividir a humanidade, e a existência de todos nós, em porções despudoradamente desiguais de deve e haver.
Foi assim que a indústria farmacêutica, a indústria das tecnologias de informação e as do grande retalho e distribuição aproveitaram a situação pandémica para acumular lucros nunca vistos em tão pouco tempo.
É assim que a indústria do armamento militar, a pretexto da ignóbil, mas altamente vantajosa, invasão da Ucrânia, aproveita a ocasião para lucrar de forma escandalosa com a corrida global ao armamento das nações soberanas, ávidas, veja-se bem, pela manutenção da paz no Mundo.
E é também assim, gizado numa grande folha dividida por um perfeito risco de alto a baixo, que as indústrias do Petróleo e das restantes energias, cartelizadas, se vão aproveitando do medo das nações de consumidores, atarantados com tantos embargos e fechos de condutas, para aumentarem as margens de lucro, devorando pelo caminho todas as tentativas dos governos nacionais para diminuir o impacto, da pretensa escassez de matérias primas, nos consumidores.
Rematando de forma soberba todo este cenário, e porque tudo neste Mundo Global se submete, claro está, às leis do mercado, os especuladores, Manelinhos encartados, dão uma mãozinha na engendrada confusão, açambarcam tudo o que podem e lucram desmedidamente com a inflação. É a lei da oferta e da procura, pois então.
Assistindo a tudo isto, os homens da finança e outros onzeneiros, não podiam ficar fora do banquete. Esfregam as mãos com a novel necessidade premente de armar o mundo para a paz e, por outro lado, como os teóricos que sustentam esta arte afiançam que a inflação só se combate aumentando as taxas de juro, aproveitam a deixa para, a bem das economias das nações, lucrarem à tripa forra com as necessidades dos mais desprotegidos.
Lamentavelmente, hoje, a alimentar isto tudo, estão os infortunados Ucranianos. Mas também, mais esquecidos, os Palestinos, os Sírios, os Iemenitas, os Curdos, … enfim.
Ricardo Furtado