Artigo:“O ato educativo é um ato de paz”

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“O ato educativo é um ato de paz”

Sofia Vilarigues | Jornalista

Falámos com Anabela Laranjeira e Susana Matos, autoras do livro “E as pombas? O que têm a ver com os cravos?”. Um livro que se pretende também enquanto projeto educativo.

Anabela, autora do texto, é professora do 1º ciclo e dirigente sindical do SPGL, e Susana é ilustradora, trabalha também com conteúdos gráficos e redes sociais e já foi professora de Educação Visual e Tecnológica e professora do 1º ciclo.

Começámos por querer saber como surgiu esta ideia. “A ideia veio por proposta do CPPC, do Conselho Português para a Paz e Cooperação, num projeto que tem com os Municípios pela Paz. Foi-nos proposto criar uma história que tivesse o tema da paz. E a ideia do livro é precisamente contar uma história e pôr as crianças a debater”, diz-nos Anabela.

“A Anabela pegou primeiro, com o texto e, depois, a partir do texto eu fiz as ilustrações. Mas a ideia, a história, a narrativa, partiu tudo da Anabela”, afirma Susana. “A ilustração de um texto é sempre um desafio. E o primeiro é haver equilíbrio entre o texto e a ilustração. É sempre um grande desafio que a ilustração viva à parte e que não seja redundante em relação ao texto, que venha acrescentar algo mais”, revela-nos a ilustradora.

Traçando algumas pinceladas da história, Anabela conta-nos: “A história começa com um diálogo. É uma neta que vai conversando com a avó. Elas estão a fazer desenhos de pombas, cartazes com pombas para a celebração do dia 25 de Abril. Também tem, portanto, uma relação com os 50 anos do 25 de Abril, e de como o 25 de Abril trouxe a paz a muitos territórios. Depois surge a mãe e o avô que esteve na guerra colonial. E, durante a história, uma das pombas fica com um coração de cravo, com um coração vermelho de cravo”.

“É preciso que as crianças tenham alguma coisa também a dizer sobre isto”

A Câmara Municipal do Seixal distribuiu o livro a todas as crianças do pré-escolar e do 1º ciclo e as autoras fizeram uma apresentação nas jornadas pedagógicas organizadas pela câmara. “Estavam muitos professores e foi bem recebido e acharam interessante. Também foi bem acolhido quando foi distribuído pelas crianças, houve interesse por parte dos professores”, diz-nos Anabela.

Houve ainda um contacto com a Biblioteca Municipal do Seixal e Anabela e Susana aguardam desenvolvimentos futuros.

As autoras já propuseram, neste quadro, atividades de projeto. “Atividades dinamizadas a partir da escola, onde se pudesse convidar uma avó ou alguém que tivesse vivido a época do antes do 25 de Abril e tivesse algum contato com a guerra colonial. E, a partir de fotografias, contextualizar e explicar às crianças o que foi o horror da guerra colonial”, diz-nos Susana. “A ideia seria recolher ilustrações das crianças e perceber a perceção que elas têm sobre este tema”, acrescenta Anabela. “Muitas vezes é um tema que nós discutimos como adultos, no âmbito político, no âmbito económico, mas sobre o qual as próprias crianças têm perceções e ideias e opiniões. Porque elas têm alguma coisa a dizer, não é? E a participação das crianças e dos jovens é também um direito. E, depois, fazer talvez uma exposição, no final, haver vídeos com as crianças a falar também”.

Apontando objetivos do livro e projetos relacionados, Anabela sintetiza: “Eu acho que o principal foco com as crianças seria realmente compreender quais são as suas perceções. E perceber como é que elas próprias podem participar na promoção destes valores da paz, e como é que os professores também o podem fazer. Portanto, outro foco seriam os professores. Porque o ato educativo é um ato de paz, é um ato para construir países e sociedades que consigam viver dignamente e em paz, e onde haja bem-estar. E outro foco que eu acho que era importante é a questão da criação artística. E esta componente da cultura da paz e da cultura como opositor da guerra”.

As autoras destacam a importância do tema da paz. “Nós estamos agora com uma discussão de nos armarmos mais, de comprarmos mais armas, de investir mais numa guerra. Nós, Europa. Nós, Portugal, quando temos a Constituição que temos, que diz precisamente o oposto, que defende a paz. Então este tema é muito importante”, desenvolve Anabela. “A questão da Palestina poderia estar também neste projeto”, aponta Susana. “Trata-se de um verdadeiro genocídio, que é gravíssimo, que tem uma relação muito grande com as crianças e com os jovens, porque a maior parte da população daquele país são crianças e jovens. É preciso que as crianças tenham alguma coisa também a dizer sobre isto”, avança Anabela.

Outros municípios, para além do Seixal, já demonstraram interesse no livro e seu projeto. E, acrescenta Susana, “qualquer professor que lesse e gostasse de desenvolver o projeto na sua escola, na sua turma, nós estaríamos disponíveis”.

Texto original publicado no Escola/Informação Digital n.º 45 | março 2025