Artigo:Nº 237 Abril/Maio 2010

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A ESCOLA EM TEMPOS DE CRISE PROFUNDA


É uma banalidade dizer que a Escola Pública reflecte os problemas com que a sociedade se debate. E mesmo que tente, no limite da sua boa vontade, neles intervir, a eficácia da sua resposta será sempre pontual, centrada na resolução de um ou outro caso individual, certamente importante porque nele se envolvem pessoas, mas que deixará intacto o problema social que lhes está na origem. Continuamos mergulhados numa crise que é social, económica mas também de confiança. Passadas as efémeras festas futebolísticas e papais, voltamos à nossa trivial e angustiada tristeza. 

Seria desejável que a escola pública fosse um espaço de contra-corrente: um espaço de esperança e de alegria. Mas objectivamente não o consegue ser. A alegria de ser professor foi gravemente mutilada pelas sinistras figuras de Lurdes Rodrigues e Valter Lemos (permito-me, apesar de tudo, ter ainda uma réstia de esperança na actual equipa). Mantém-se a corrida às aposentações mesmo que penalizadas, mantém-se a revolta contra um modelo de avaliação de desempenho que tornará as relações interpessoais num inferno dentro de cada escola, mantém-se a falta de autonomia para que cada escola possa encontrar as melhores soluções para o sucesso dos seus alunos. Mantém-se sobretudo a indefinição da resposta à pergunta: Para que serve a Escola neste tempo de profunda crise? Que deverá desdobrar-se nesta outra: como se pode organizar a Escola para que não seja ela própria factor de agravamento da crise social?

Se a crise se agudizar – infelizmente parece que esse é o caminho – aumentarão a indisciplina, o insucesso, o mal-estar. E vai ser pedido aos professores e educadores um esforço suplementar de lucidez e de coragem para fazer de cada escola um espaço onde se acredite no futuro e onde se preparem as novas gerações para esse futuro, por mais incerto que ele se apresente. Crescerá a importância dos professores e educadores. Temo porém que nem Sócrates nem Isabel Alçada estejam à altura de humildemente reconhecerem que é com os professores e não contra eles que a escola pode cumprir a sua hercúlea tarefa. Ou seja, é preciso uma completa inversão do rumo traçado nestes últimos anos.

Porque a mudança só se faz com energia e com luta, a Manifestação do próximo dia 29 de Maio é muito importante: é mais uma vez um apelo a que nos deixem ser professores para que a escola possa seriamente funcionar.