Artigo:Nº 228 Março de 2009

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Editorial
António Avelãs

UMA VISÃO DIMINUÍDA DA DEMOCRACIA

Quando uma questão tão essencial para a vida dos portugueses como é a da qualidade da Escola Pública e a das condições de trabalho nas escolas se confronta com medidas que têm a rejeição firme de toda a classe dos professores e educadores e provocam na Assembleia da República uma total divisão, em que tudo se decide por um voto, mandaria o bom senso democrático, o interesse dos alunos e da sociedade em geral que se procurassem os consensos que conduzissem ao bom ambiente de trabalho nas escolas. Quando vários deputados da maioria socialista, para além dos que corajosamente votaram contra a orientação de voto da sua bancada, declaram ou deixam entender que votam contra os professores e contra as escolas apenas por respeito para com as orientações partidárias ou para evitar “crises políticas” estamos certamente a trilhar um caminho péssimo: o de anular o papel da Assembleia da República enquanto palco da defesa dos superiores interesse do país e dos cidadãos, limitando-a a um suporte cego das medidas de um governo conjuntural, por mais irracionais que estas sejam. Estamos por isso a caricaturar a democracia.

A profunda divisão política e social provocada pelo modelo de avaliação de desempenho em má hora sonhado por quem detesta escolas e não faz a mínima ideia de como elas funcionam, pela enorme resistência dos professores e educadores, estará de certeza entre os temas centrais do debate político-partidário para as próximas eleições legislativas que, na hipótese mais tardia, coincidirão com o arranque do próximo ano lectivo. Esperemos que os diferentes partidos concorrentes apresentam propostas capazes de relançar a calma nas escolas e nos professores, indispensável a um trabalho de qualidade. E esperemos que os portugueses tirem as devidas consequências de uma maioria absoluta que rapidamente se tornou num exercício de reles práticas ditatoriais.

Os professores e educadores, esses, continuarão a resistir e a manter a questão da Escola no centro do debate político e das preocupações do país.