Artigo:Nº 226 Nov./Dez. de 2008

Pastas / Informação / Escola Informação

Editorial
António Avelãs

UMA GRANDE GREVE EXIGE UMA BOA NEGOCIAÇÃO

Escrevo este pequeno texto ainda sob a influência da extraordinária greve dos professores e educadores do dia 3 de Dezembro. Uma greve que sem qualquer exagero nem inflação se aproxima, na área do SPGL, dos 90%. Não é um número “político”: é um número real. Nível de adesão que, de resto, se verificou por todo o país.

Após o 8 de Março, após o 8 de Novembro, após as concentrações regionais, esta greve é bem a demonstração de como a classe docente se assumiu como criticamente exigente e de como reagiu a um modelo de avaliação que colide com a sua ética e com a deontologia da profissão. Rebelou-se contra a divisão insensata dos professores em “titulares” e “meros professores”; expressou, de forma ainda mais veemente que antes, o repúdio por um Estatuto de Carreira que desvaloriza a profissão.

A difícil tarefa dos sindicatos, que não são mais do que representantes dos professores e educadores, é transformar estas manifestações e esta greve em força negocial. Porque o papel dos sindicatos é mesmo esse: negociar com a intransigência possível e sensata de modo a que sejam defendidos os superiores interesses dos alunos, das escolas e, obviamente, dos docentes.

Negociar implica reconhecer aos interlocutores boa fé e vontade de encontrar uma solução. Não creio que o ME cumpra estes desideratos quando manipula a opinião pública dizendo que os professores não querem ser avaliados, que nunca o foram ou que nunca apresentaram propostas. Como é “meter a cabeça na areia” o ME considerar que o seu modelo é o único possível (ou, pelo menos, o melhor dos modelos). Simplificado sucessivamente, Jorge Pedreira admitiu, hoje mesmo, que o “seu” modelo poderia voltar a ser simplificado no próximo ano. (E, acrescento eu, inevitavelmente nos próximos anos, em cada ano). O que é uma maneira “simpática” de reconhecer que não funciona, que não serve. Só resta abandoná-lo porque está definitivamente morto! Vamos construir outro!

Esta postura reflexiva, crítica e combativa dignifica os professores e os educadores. A “desobediência cívica” (para usar uma expressão do Óscar Soares) que estão a promover em torno da avaliação de desempenho é um acto de transparente cidadania. Acto de rebeldia que arrasta consigo outras contestações: a da divisão artificial da classe em “titulares” e “professores”, e a de um ECD que desvirtua e desvaloriza a profissão docente. Está tudo ligado? Está. O que não significa que tenhamos de ganhar tudo definitivamente ao mesmo tempo.

Oxalá que as negociações recomecem com um novo espírito e uma maior disponibilidade do ME para reconhecer que o superior interesse das escolas deve prevalecer sobre as suas estranhas manias e doentias fixações.

A reunião negocial “arrancada” ao ME para o dia 15 de Dezembro não pode desiludir os que apostam numa solução justa para o conflito. Os professores deram um sinal claro ao suspenderem as greves regionais marcadas para a semana de 9 a 12 de Dezembro. Será o ME capaz de compreender este gesto dos professores?