Nuno Álvaro Dala, 31 anos, está em
greve de fome há mais de um mês
(Público, 13/04/2016)
Há quem se arrisque a morrer em nome da liberdade.
Há quem, em muitos tempos e lugares, como hoje em Angola, passe fome, sofra, seja espancado, humilhado, assassinado, veja a sua família infernizada, em nome da materialização dos valores mais básicos, sem a qual termos como humanidade, civilização, estado de direito, lei, têm apenas valor como recursos de retórica para fins diversos, incluindo a legitimação da opressão e da violência ilegítima.
Assim acontece em Angola, numa espécie de democracia relativa, à semelhança da Rússia, em que mecanismos legais são utilizados de forma a que já não se percebe se o objetivo é fazer justiça ou garantir a defesa dos interesses do governo, tal a confusão aparente entre poder executivo e poder judicial.
Como se pode ver pela notícia, a pressão sobre quem luta por uma Angola mais justa e democrática, atinge aspetos de grande minúcia e zelo procedimental, como seja a criação de obstáculos à movimentação dos meios financeiros necessários à defesa dos arguidos, os quais. recorde-se, foram apanhados a ler um livro e acusados, por isso, de atentarem contra o Estado angolano.
Como não censurar isto?
Em nome do negócio, da soberania dos povos?
Será uma ingerência pedir a um Estado com que mantemos relações históricas, intensas, de mútua e larga dependência, que se comporte de uma forma justa com os seus cidadãos?
Será o dinheiro e a fraqueza que conduzem a vida?
Não é isso que diz o poeta.
João Correia