Não será de pedir a demissão do ministro João Costa...
...caso mantenha a proposta de alteração do modelo de recrutamento dos professores?
Considerará o Governo que os professores estarão assim tão velhos, incapacitados, conformistas, ou lá o que pensa, que não possam fazer o que se lhes exige perante tamanho ataque às mínimas garantias de independência e autonomia para o exercício da sua profissão, subjugando-os às idiossincrasias de diretores e respetivas tutelas políticas, impedindo muitos de se aproximarem às suas origens geográficas através do mecanismo da mobilidade interna?
Este João Costa faz lembrar um que desejava “implodir o Ministério da Educação”, mas também uma senhora que se regozijava de perder os professores em troca de ganhar o país.
Tal como a esses, parece cumprir a João Costa, sob o escudo de uma maioria absoluta, a continuação da tarefa de desmantelar os serviços públicos, peça por peça, garantir que não possam funcionar demasiado bem para que não custe assim tanto, um dia, aniquilá-los de vez. Será que João Costa considera que, por ter tornado mais difícil a eficácia da greve às avaliações, pode levar avante os mais violentos ataques à Escola Pública e aos professores sem medo de consequências de maior?
Esta fase, a de municipalizar o sistema de recrutamento, para que, no imediato, se possa atrair o financiamento europeu como forma de pagar o salário dos professores e criar as condições para uma ilusão de “estabilidade” do corpo docente, constitui também um avanço significativo na mudança de paradigma do sistema educativo, cada vez mais subjugado ao princípio das “autonomias” em detrimento duma relação direta entre as escolas e a tutela.
O atual sistema de recrutamento de docentes, apesar de todos os seus defeitos, constitui um exemplo de como concursos públicos nacionais, centralizados, baseados na graduação profissional, são uma garantia de transparência e independência dos docentes, contra escolhas baseadas em amiguismos ou compadrios.
Nem tudo o que é centralizado e do Estado é mau, por mais que o new age político-pedagógico e os interesses obscuros que pulsam no interior de certos partidos políticos o berrem por aí.
João Correia