Artigo:Não há solução sem a queda do Governo

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António Avelãs, presidente do SPGL, em entrevista após o 11º Congresso da FENPROF, salienta a necessidade de articulação entre a reação de professores e educadores com a reação global dos portugueses e aborda a recusa internacional sindicalista do neoliberalismo.


O que consideras de salientar das formas de intervenção aprovadas e debatidas pelo 11º Congresso da FENPROF?

Na minha opinião, este Congresso não trouxe novidades, nem nos temas tratados, nem no modo como os tratou, nem nas conclusões a que chegou. Esta constatação tem uma face positiva e outra negativa. Por um lado reforça a posição da FENPROF em defesa da escola pública, como ela é desde sempre entendida pela Federação. Mas por outro lado, e dado o caráter inconclusivo da consulta que fizemos aos docentes, o Congresso limitou-se a marcar uma manifestação para 22 de junho, deixando pouco clara a posição sobre greve aos exames e/ou às avaliações. Ora com as barbaridades com que todos os dias o Governo nos atinge, talvez seja precisa uma reação mais incisiva. Mas a situação não é nada simples. E a reação dos professores e educadores tem de articular-se com a reação global dos portugueses porque não há solução para este desastre sem a queda do Governo – e fazê-lo cair não é tarefa (só) da classe docente

Do trabalho preparatório do Congresso, com os debates nas várias escolas, que principais preocupações e objetivos de luta se destacaram (em Lisboa)?

De certa forma já respondi na questão anterior. De tudo, o mais grave é que não há verdadeiramente ministro da Educação. E o Ministério, incapaz de qualquer projeto sério de consolidação da escola pública, está orientado para a privatização do ensino, tornado um bem mercadorizável, objetivo para o qual a degradação da qualidade da escola pública é uma etapa. Por isso, a campanha que a FENPROF vai lançar mostrando o que de muito bom se faz nas nossas escolas públicas vem muito a propósito.

Há consensos nas análises sociais das causas dos problemas atuais da escola em Portugal?

Temo que o consenso seja muito ténue. Para o MEC – e parte importante dos docentes – o problema maior é a suposta falta de qualidade das aprendizagens, o que justifica o recurso “intensivo” aos exames, a começar no 4º ano de escolaridade (!). Mas para a maior parte dos professores e educadores a questão central da Escola é a falta de financiamento e a brutal redução dos salários e o massivo desemprego docente - medidas que parecem não tirar o sono a Nuno Crato e seus correligionários.

Há consenso quanto à necessidade de reagir. Mas sobre o como, o quando e o para quê, as divergências são acentuadas, como o revelam os resultados do nosso inquérito.

O Congresso e o Seminário Internacional prévio permitiram também o debate entre profissionais de vários países. Que regiões estiveram representadas? Gostarias de referir alguns aspetos de tais realidades diversas, por um lado, e ações próximas da nossa realidade, por outro?

Estiveram no nosso Congresso quase 70 sindicalistas estrangeiros, da Europa, África, América do Sul e Canadá. De comum, a firme recusa do neoliberalismo, o reconhecimento do fracasso da “austeridade a todo o custo”, e a firme consciência de que os trabalhadores têm de que só a conjugação dos esforços pode “libertar” os países do sul da Europa da agiotagem internacional.