Artigo:MEMÓRIA VIVA – VAMOS COMEMORAR - Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência

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MEMÓRIA VIVA – VAMOS COMEMORAR

Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência

Por que se assinala este dia? E por que se nomeiam as Raparigas? Não bastaria assinalar as Mulheres na Ciência?

A Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou em 22 de Dezembro de 2015 uma resolução no sentido de se assinalar todos os anos a 11 de Fevereiro o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência. Esta resolução da ONU é o reconhecimento dos esforços levados a cabo por diversas instituições e organizações em todo o mundo para apoiar e promover o acesso das mulheres e raparigas à educação, à formação, à investigação científica e tecnológica, à engenharia e matemática, áreas tradicionalmente consideradas “masculinas”. Em Portugal, há que referir o papel da Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas AMONET neste esforço de promover a igualdade de género e de desmontar os preconceitos de género que, erradamente, consideram que a Ciência é uma área mais para homens e rapazes do que para mulheres e raparigas. Num estudo que envolveu 14 países, os números quando se compara o acesso de mulheres e homens à formação em Ciência reflectem um fosso superior a 50%. Para a obtenção dos graus de licenciatura, mestrado e doutoramento, temos para homens/rapazes respectivamente: 37%, 18%, 6%. E para mulheres/raparigas: 18%, 8% e 2%. Há pois um enorme caminho a trilhar, sem esquecer recuos inadmissíveis como os que estão presentemente a acontecer no Afeganistão desde que os talibãs tomaram o poder em Agosto do ano passado.

Portugal não é dos países que ficam pior neste retrato, sendo dos países da OCDE um dos que está na média ao nível da engenharia e um exemplo positivo na União Europeia quanto ao número de mulheres na Ciência. Muitas raparigas nas escolas portuguesas abraçam projectos inovadores na Robótica, na Biologia, nas Ciências ligadas ao Ambiente e ao Espaço. O papel dos professores e professoras e dos pais e mães no sentido de estimular desde a infância o interesse pelo mundo da Ciência é determinante para quebrar preconceitos de género muito enraizados. Há que visibilizar mulheres que, em todo mundo, foram e são exemplos de topo nas várias áreas da Ciência, da investigação científica e tecnológica e cuja persistência, criatividade e dedicação devem ser uma inspiração para as novas gerações de raparigas. Apenas 18% dos prémios Nobel em Química, Física e Medicina foram atribuídos a mulheres desde que esse prémio foi criado em 1901, mas apenas uma mulher – Marie Curie – recebeu dois prémios Nobel em duas categorias diferentes – Física em 1903 e Química em 1911 – além de ter sido a primeira pessoa do sexo feminino a receber um Prémio Nobel. Na actualidade, a primatologista e activista Jane Goodall é uma inspiradora para muitas jovens em todo o mundo, por uma vida dedicada ao conhecimento e defesa dos chimpanzés e do seu habitat natural, ameaçado por predadores, quer sejam humanos quer se trate de interesses económicos que põem em causa o equilíbrio natural. Também Portugal se orgulha de nomes de cientistas do sexo feminino, entre as quais Elvira Fortunato que em 2021 recebeu o Prémio Pessoa relativo a 2020 pelo seu trabalho de especialista pioneira mundial na electrónica do papel, que fez dela “mãe” do transístor de papel.

Este pequeno texto responde às perguntas que formulei no início. Há que evoluir e lutar contra uma exclusão milenar de género que, ao longo de séculos foi liderada pela religião e pela misoginia que as excluía do acesso ao saber e à Ciência. Se não fosse a teimosia, o sacrifício, a tenacidade e coragem que, em tempos idos fez com que essas pioneiras não baixassem os braços e acreditassem em si e nas suas razões, o caminho a seguir ainda seria mais longo e penoso. O panorama mundial ao nível dos retrocessos democráticos e do ataque à Ciência por parte de forças obscurantistas são um sinal de alerta que mostra que este combate está longe de estar terminado. A jovem Malala é bem o exemplo e a inspiração de resistência e luta em territórios adversos.

Almerinda Bento