Medo
Não sabemos o que vai acontecer no que toca ao terrorismo, nomeadamente da capacidade das autoridades e dos exércitos de o combaterem e prevenirem eficazmente.
Mas conhecemos bem o caldo que está na sua origem, e da capacidade que os atuais líderes de movimentos extremistas islâmicos têm em aumentá-lo, aquecê-lo e pô-lo contra todos aqueles que defendem a paz, a democracia, a coexistência pacífica dos povos e das religiões.
Quanto mais guerra e caos, quanto mais morte, dor, sofrimento, maior é a força deles, pois é nesse ambiente que cresce a revolta e desespero irredimíveis daqueles que se fazem explodir para sanarem os seus males (e da sua família, ressarcidas que são pelo inominável ato em dinheiro e outras benesses).
É também nesse caldo, que nasce e cresce o medo que propicia, nas sociedades atingidas, a emergência daqueles que defendem as espectaculares e eficazes soluções finais para todos os problemas, seja o dos refugiados ou o do terrorismo, subliminarmente associados nas mentes de muita gente facilmente arrebanhável por este tipo de salvadores. É assim na França, na Alemanha, na Polónia, na Hungria, com várias forças de extrema-direita a lançarem o seu anzol de simplicidade e rudeza.
Cabe-nos também a nós, professores, directamente em contato com milhões de alunos, termos uma palavra sobre este assunto, pois que o nosso ofício é muito mais do que ensinar matérias. É também transmitir valores, por palavras e pelo exemplo. Podemos e devemos ser a voz da democracia que não quer morrer, da democracia que defende acima de tudo os direitos, as liberdade e as garantias, bem como a separação de poderes, como os seus mais precioso tesouros pelos quais vale sempre a pena lutar, sem os quais cessa qualquer possibilidade de liberdade e justiça, tão vitais quanto o oxigénio que respiramos.
Todos somos o Quetzal, o pássaro que morre quando aprisionado, pois quando morre a liberdade, deixamos de poder existir verdadeiramente.
Não deixemos que o medo seja o ferrolho que nos mata.
João Correia