Artigo:LEITURAS | Os Lusíadas - Antologia temática e texto crítico

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LEITURAS

Os Lusíadas - Antologia temática e texto crítico
António Borges Coelho

Edições Avante!, 2024

“Intenta-se aqui o diálogo com o texto camoniano; desafia-se o leitor para que, sem dogmatismos nem reducionismos e sempre com os olhos presos no texto, se aventure connosco à descoberta dos mundos de sentido que podem tornar mais forte a nossa fraca humanidade.” Com estas palavras, Borges Coelho dá a tónica da profunda abordagem que faz a Os Lusíadas em “Os Lusíadas – Antologia temática e texto crítico”, livro originalmente editado em 1980 e agora reeditado pela Editorial Avante no V centenário do poeta.

Uma descoberta que exige uma adequada contextualização. Assim, como alerta o historiador Borges Coelho, “em qualquer leitura da obra camoniana, e não só, temos que procurar ter em conta (mesmo que se torne extremamente difícil esboçar os diferentes níveis): as posições ideológicas que constituem «concessão ao costume» (as palavras são de Leibniz); as que são aceites sem consciência clara; e as concepções novas, as que rompem com o estabelecido, as quais, em épocas opressivas, como a do século XVI, se disfarçam e escondem na paisagem. Sempre do velho o novo nasce.”

O livro intercala amplos extratos de O Lusíadas, com textos críticos, que “escavam” e aprofundam o(s) sentido(s) do poema. Nas suas diversas dimensões. Desde o “Desconcerto moral, ideológico, social” (“«Quem pode ser no mundo tão quieto» que não note «do mundo o desconcerto?», quando “a Fortuna favorece os maus e «reprime», «nega seu direito» aos bons”) à afirmação do Homem moderno, “que ultrapassou qualitativamente o saber antigo” e, entretanto, “lança pelo saque e a troca desigual as bases da acumulação primitiva do capital”. Ou, ainda, numa referência à Ilha dos Amores, diz o poeta: “bem se manifesta / Que são grandes as cousas e excelentes / Que o mundo encobre aos homens imprudentes”. Um convite a “afrontar o desconhecido, vencer o tal pessimismo que os comentadores ligaram à figura do Velho do Restelo”.

Uma diversa e multifacetada leitura da obra de Camões, que é um convite à sua releitura.

Lígia Calapez  

Texto originalmente publicado no Escola/Informação n.º 309 | setembro/outubro 2024