Artigo:Lares de idosos: há utentes a “desistir da vida” e funcionários ostracizados por colegas e pela família

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Lares de idosos: há utentes a “desistir da vida” e funcionários ostracizados por colegas e pela família

Não costumo nem gosto de usar este espaço para falar de desgraças. Temos que, usando o nosso espírito crítico, ter uma visão transformadora e propositiva porque acreditamos na mudança social. Mas hoje, não consegui deixar de trazer aqui o artigo em destaque no “Público” de 27 de Abril com o título “Lares de idosos: há utentes a “desistir da vida” e funcionários ostracizados por colegas e pela família.”

Este título encerra tudo o que de pior se pode esperar desta pandemia, ou de qualquer situação de catástrofe. De facto, não somos todos iguais e não estamos a sentir o confinamento como se fôssemos todos iguais. O artigo debruça-se sobre a realidade dos lares, aqueles espaços da nossa sociedade moderna, onde, por força das circunstâncias da vida, as pessoas de idade são depositadas à espera de morrer. E foca-se nesses mesmos espaços, onde idosos e idosas, porque não percebem o que se passa e pensam que foram abandonados pelos familiares que há muito não os podem visitar, desistiram de viver, onde as demências se agravam, onde deixou de haver esperança. Já para não falar que 40% das mortes por covid 19 são de utentes de lares.

E aqueles seres invisíveis que trabalham nos lares, cuidadoras, auxiliares, todo esses que muitas vezes são os únicos familiares dos utentes do lar, quando os de sangue deixaram de existir, mesmo antes da pandemia? Invisíveis, mal pagos, tratados como descartáveis! A notícia do “Público”, que não é nenhum romance ou texto ficcional, fala de casos concretos reais, dessas pessoas que estão a ser encaradas como leprosos, marginalizados, pela própria família! Assustador mesmo.

Hoje, estas notícias ao vivo. Lembrando as cenas que já tínhamos lido no fantástico, inesquecível e terrível “Ensaio sobre a Cegueira” de Saramago ou em “A Peste” de Camus. A grande literatura a lembrar-nos o que a natureza humana tem de melhor e de pior, de inimaginável. No romance de Camus, no meio da pandemia que atacou aquela cidade argelina de Orão, árida, sem pombas, sem árvores e sem jardins, onde só se pensava em negócios e em enriquecer, o Dr. Rieux desabafava “ Dentro em pouco, não haverá senão loucos dentro dos nossos muros”, para concluir no final, passada a pandemia que “há nos homens mais coisas a admirar que coisas a desprezar”.

E concluo, também com uma nota positiva, esperando que o que de melhor que os seres humanos têm, prevaleça sobre o que resulta do medo que nos tolhe e nos torna desumanos.

Almerinda Bento