Artigo:Jornadas Pedagógicas - Pelos Caminhos da Arte | A Comuna e a “A Paixão Segundo o Teatro”

Pastas / Informação / Todas as Notícias

Jornadas Pedagógicas - Pelos Caminhos da Arte

A Comuna e a “A Paixão Segundo o Teatro”

A equipa das Jornadas Pedagógicas

No dia 1 de março, as Jornadas Pedagógicas da DRL realizaram a sua primeira visita em 2024, uma visita ao teatro da Comuna para se assistir ao espetáculo “A Paixão Segundo o Teatro”, com João Mota, Maria Jorge, Miguel Sermão e Rogério Vale.

Fundada a 1 de maio de 1972, a Comuna assume-se como um laboratório vivo, de partilha e onde a prática teatral é encarada como um ato de resistência. “A Paixão Segundo o Teatro” reflete este posicionamento sobre o teatro e a vida.

A noite chuvosa contrastou com o acolhimento caloroso presente em todos os pormenores. Terminada a saborosa refeição, servida em ambiente familiar, os participantes assistiram ao espetáculo “A Paixão Segundo o Teatro”, concebido por Brigitte Jacques-Wageman, a partir das aulas de teatro dadas por Louis Jouvet, no conservatório de Paris, em que este trabalha, com uma sua aluna, Paula Delhelly, a segunda cena de Elvira, de “D. João” de Molière.

O texto da peça corresponde a 7 lições, ao ensaio e às sucessivas tentativas de representação de uma única cena. Através das falas, o espetador assiste e é conduzido ao questionamento e reflexão sobre a fronteira e a transposição entre o “eu”, real, e o “outro”, entidade ficcional. O que está em cena é a construção da personagem, a essência da interpretação, da representação, do que é ser ator, impensáveis sem uma relação de confiança entre professor e aluna, que se vai construindo. Em cena, questiona-se a verdade na ficção.

Cada espetador viveu o momento de forma intensa e muito pessoal e as reações foram diversas. Destacamos aqui o pensamento e as palavras de Inez Marques, sócia e dirigente do SPGL:

Fui ao T E A T R O de João Mota!!!

Emudeci. Em cada segundo, revi tudo o que aprendi com ele, com os mestres que tive na vida!

Aprendi muito, aprendo sempre com eles, mesmo que já não possa provar fisicamente com a maior parte deles (delas também, claro). Na realidade, na tal de duração vital, profissional e outras, não “fiz de atriz”, mas estive a maior parte da minha existência em palco. Fiz formações performativas ou lá o que se chama a isso. João Mota será sempre um Mestre Maior, um ser humano admirado de modo profundamente contido. Mas isso é outra coisa. Continuo em palco com plateias numerosas ou simplesmente com dois participantes nos atos, nas cenas nunca ensaiadas. Terão mais eficácia sempre que sejam profundamente sentidas, vividas em voo onírico com os fragmentos de vida lá dentro. Nenhum discurso intelectual por mais elaborado, treinado, depurado ou outra coisa mais que revele erudição e seja elitista será melhor, cativará o outro a ponto de o render completamente à total sedução, se não for autêntico, isto é, se não revelar a total entrega emocional e sentida, a genuidade do ator, ou atriz, quer seja no teatro, na escola, nas profissões performativas. Diria mesmo que em toda a atividade humana que é necessariamente relacional e interativa.

Este espetáculo é genial. Tratar-se de paixão. Paixão segundo o teatro, como também diz o título. Trata-se de superação completa do ego, dos clichés, do trabalho árduo que implica a total confiança no "professor" que sabe, em si próprio, caminhando no jogo de repetição, do aprimoramento necessário!

Que sorte tenho tido na vida, disse, sem voz, quando acabou a representação da peça, das lições de João Mota dadas a Maria Jorge. Sim. É que não fui capaz de os distinguir. Eram eles. Autênticos. Genuínos em palco. Obrigada a todos que me deram uma noite assim. Mais lições nesta estrada sinuosa. Sempre a aprender. Sentindo.

Vão. Vão ao Teatro. Vão lá aprender. Este mundo precisa que nos saibamos aperfeiçoar!

Nota: olhar o João Mota é, de facto, sentir no corpo e na alma: obrigada!

Texto original publicado no Escola/Informação Digital n.º 42 | março/abril 2024