Artigo:Jornada Pedagógica | 11 de maio - Visita ao Museu Nacional da Resistência e Liberdade

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Jornada Pedagógica | 11 de maio

Visita ao Museu Nacional da Resistência e Liberdade

Na manhã ainda fria e húmida, esperava-nos, em Peniche, João Neves que nos conduziu com sabedoria pelo Museu Nacional da Resistência e Liberdade. À tarde, no Ilhéu da Papôa e na Ponta do Trovão, por entre rochas e fósseis, recuámos às caixas temporais mais antigas, que narram a História da Mãe Geia e dos humanos que aí se fixaram. “Foi ouro sobre azul”.

Guardar na memória este dia é nunca esquecer os nomes, a coragem escrita no Memorial que nos introduziu, passadas as muralhas, ao universo da dor, da solidão das celas fria, da tortura marcada com sangue nas paredes da solitária. Caminhámos nesse labirinto de terror pelos núcleos que nos contam como se manifestou cruelmente a opressão do regime salazarista sobre os que entregaram a vida para que um dia raiasse o sol e a liberdade se espelhasse “na água da vida”. Esta fortaleza-prisão conta-nos, também, como se adaptou o regime aos novos métodos repressivos não neutralizando nunca a ajuda dos penichenses. Após o tempo em que se guardaram os presos nas casernas, como gado, ergueram-se blocos, em torno de um pátio que destaca a opressiva correnteza dos edifícios de janelas com grades com paralelas e perpendiculares, retalhando o mundo aos quadrados. O percurso museológico mostrou-nos o espaço físico na sua crueza, em cores frias, como era a vida dos prisioneiros mostrados nos objectos parcos e pobres com que a vida se desenrolava fora das sessões de tortura ou dos encontros dos afectos com lágrimas que certamente se manifestaram naquele terrífico Parlatório. Os pormenores significativos reforçam, pelo seu minimalismo, a vida dura de quem ali viveu com os baldes a servirem de latrina, ao canto, e um botão nas paredes para chamar o carrasco. Ali, só a janela aberta para o Mar era vida, apelo de fuga trazida pelo vento nas vozes solidárias distantes. Esperança!

Em cores escuras, em atmosfera de luz coada e intimista, percorremos um outro corredor de memória, da história da opressão e crueldade, sem esquecer a coragem e resistência dos nomes escritos e dos anónimos que TUDO ofereceram pela liberdade, pelo sonho de um mundo igual, justo e fraterno. Assim foi. Assim devemos seguir, lutando, com nossos jovens, pela multiplicação dos exemplos ali visíveis. Sempre! 

Texto original publicado no Escola/Informação n.º 308 | maio/junho 2024