Artigo:Joaquim Pagarete, um homem imprescindível

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Joaquim Pagarete (1944-2024)

Sílvia Timóteo
| Dirigente SPGL |

Faleceu Joaquim Pagarete, cuja vida foi um exemplo de cidadania e de luta, de serviço pela causa pública, em defesa da Educação, da Cultura e da Paz. O seu percurso de vida está indubitavelmente ligado à História do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa. Sócio n.º 38, Joaquim Pagarete foi o 1.º Presidente eleito da Direção do SPGL, em 1976-77.

Joaquim Pagarete, um homem imprescindível

No passado dia 20 de novembro, na Igreja do Santo Contestável, em Lisboa, familiares, amigos, antigos colegas de trabalho e camaradas de luta despediram-se de Joaquim Pagarete, numa sala que foi pequena para acolher todos aqueles que quiseram estar presentes na última despedida a um homem que dedicou toda a sua vida à luta pela Liberdade, Democracia, Direitos dos trabalhadores e, em partícula, dos professores.

Natural de Lagos, Pagarete inicia a sua atividade de militante revolucionário, de forma clandestina, na universidade, ainda no tempo da ditadura de Salazar. Após a Revolução do 25 de Abril, já assistente da faculdade, envolve-se na luta político-sindical. Integra o PS, colabora na construção da Comissão de Educação deste partido, faz parte da Comissão Diretiva Provisória do SPGL, que nasce de uma Assembleia Geral em que participam milhares de docentes, logo no dia 2 de maio de 1974, escassos dias após a revolução e, torna-se o 1.º Presidente do SPGL, em 1976. Fiel aos seus princípios e à luta dos professores, recusa desconvocar uma greve, que tinha sido decidida em Assembleia Geral e cujo objetivo é exigir a colocação de todos os colegas do ensino básico e secundário, atitude que lhe vale a suspensão e, posteriormente, a expulsão do PS. Contudo, os docentes, apoiados pelo seu sindicato, conseguem sair vitoriosos desta luta. Ainda no sindicato, procurou sempre agregar a luta dos trabalhadores e, com outros sindicatos, construir um sonho comum: a criação de uma Central Sindical Única de Trabalhadores. Foi um dos fundadores do POUS (Partido Operário de Unidade Socialista), membro da secção portuguesa da IV Internacional, e responsável pela construção do jornal “O Militante Socialista”. Nos últimos tempos, o combate à Guerra foi uma das suas bandeiras de luta.

Muitos foram os que quiseram tomar a palavra na última homenagem, entre eles, o atual presidente do SPGL, José Feliciano Costa, em representação da Direção do sindicato. Salientaram o seu percurso de vida, a sua determinação e entrega, o “trabalho abnegado, rigoroso e paciente, quer na vida académica, como professor, na Faculdade de Ciências de Lisboa quer na sua atividade militante” (Carmelinda Pereira, companheira de vida, durante 50 anos) e descreveram-no como um homem capaz de construir pontes com militantes de outras organizações e diferentes estruturas políticas. O Voto de Pesar, apresentado na Assembleia da República pelo Grupo Parlamentar do BE (Bloco de Esquerda), no passado dia 5 de dezembro, é a prova do respeito e reconhecimento que conseguiu reunir em torno de si.

Porém, de entre todos os discursos, destaco o de uma sua amiga que, para mim, melhor retrata e sintetiza o homem que tive a honra de conhecer: “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”(Brecht). Assim era Joaquim Pagarete.

Texto original publicado no Escola/Informação Digital n.º 44 | novembro/dezembro 2024