Artigo:Já não há luta de classes…

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Já não há luta de classes…

Folheio o jornal Público desta manhã e logo me prende a atenção a notícia de capa “Só 1400 estudantes muito pobres entraram nas universidades”. Claro que me satisfaz saber que, nos EUA, a comissão criada para investigar o ataque ao Capitólio quer Trump julgado por quatro crimes, mas o meu interesse maior tem a ver com o facto de que os tais 1400 estudantes portugueses muito pobres são menos de 3% do total de entradas este ano nas universidades.

Para se ter uma real noção do universo de jovens que entraram nas universidades e “como” entraram, a notícia da autoria de Samuel Silva é esclarecedora. Este ano, ingressaram 50 mil jovens nas universidades. Pelo facto de o governo ter introduzido uma alteração que torna automática a atribuição de bolsas de estudo aos beneficiários dos três primeiros escalões de abono de família, 7132 jovens entraram por essa via. Destes, os jovens do 1º escalão representam 1422 estudantes, dos quais apenas dois (2) entraram em universidades privadas, de acordo com dados da DGES. Para além destes 7132 “caloiros” beneficiários, há ainda 34.022 renovações de apoios a estudantes que já beneficiaram deles no ano passado e mantêm os critérios de atribuição de bolsas.

Depois, há todo o calvário dos/das jovens que nestas condições tão precárias e desiguais conseguem ultrapassar os obstáculos de estudar, deslocar-se, arranjar alojamento, alimentar-se, viver… O Boletim Económico do Banco de Portugal de Maio referia que apenas um em cada dez filhos das famílias pobres e em que as qualificações dos pais não vão além do 9º ano consegue concluir o ensino superior. Só a Itália tem piores resultados que Portugal.

O presidente da Federação Académica de Lisboa, João Machado, afirma que os automatismos na atribuição de bolsas “resolvem uma parte do problema, mas não resolvem o problema todo. O que tem de vir rápido é o dinheiro. E, em alguns casos, isso não acontece.”

Numa sociedade dividida em classes, mesmo quando se quer evitar essa realidade e se quer dar a entender que os mecanismos para a igualdade estão a funcionar, esta rápida “radiografia”, que o jornal Público hoje nos dá a conhecer, mostra que o acesso universal ao ensino e ao conhecimento em igualdade de oportunidades está muito longe de ser a realidade que vivemos.

Almerinda Bento