Artigo:Intervenção urgente

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Intervenção urgente

O meu artigo de hoje vem a propósito do seminário “Delinquência Juvenil – um Desafio para a Segurança” que ocorreu ontem na Universidade Lusófona em Lisboa e que foi promovido pelo Comando Metropolitano de Lisboa da PSP. Aí, concluiu-se que a delinquência juvenil tem vindo a acentuar-se de forma preocupante, com características cada vez mais violentas e em idades cada vez mais precoces.

A referência a este seminário encontra-se no jornal “Público” de 8 de Novembro, na secção Sociedade e é acompanhado de uma entrevista a Diana Ribeiro da Silva, docente e investigadora da Universidade de Coimbra que desenvolveu um programa através do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental da FPCE. O programa foi aplicado com jovens agressores em seis centros educativos da rede nacional entre Março de 2018 e Março de 2019.

A primeira constatação foi a de que se verificavam psicopatologias em praticamente todos os jovens a cumprir medidas de internamento em centros educativos. Para além de serem oriundos de contextos socioeconómicos disfuncionais e problemáticos, foram em grande parte sujeitos de experiências de negligência. Como diz a certa altura a docente entrevistada “A maior parte destes miúdos foi sempre vítima; mas só se olhou para eles quando se tornaram agressores.” Os actos violentos que os levaram aos centros educativos revelam um sintoma que requer tratamento, nomeadamente ao nível da saúde mental, pelo que o caminho a seguir deveria ser: avaliação, diagnóstico e intervenção. Tem havido um desligamento entre o sistema de justiça e o sistema de saúde, nomeadamente mental, na intervenção junto a estes jovens, para que se evite que reincidam no crime quando saírem dos centros educativos.

Como refere a docente e investigadora Diana Ribeiro da Silva, a terapia utilizada, focada na compaixão, tem como finalidade “tornar os sujeitos capazes de serem sensíveis ao sofrimento dos outros e deles próprios e fazer esforços para prevenir e aliviar esse sofrimento”. Como ela refere na avaliação feita à metade dos 119 jovens a quem foi aplicado o programa “foi possível constatar o reforço da compaixão e a redução dos traços psicopáticos nos miúdos do grupo que puderam beneficiar do programa”.

No entanto, apesar dos benefícios de uma intervenção que devia ser para ontem, através da entrevista fica-se a saber que a implementação deste modelo psicoterapêutico irá prosseguir, embora ainda não se saiba quando começará a ser aplicado em Portugal. Também há alguns dias soubemos das queixas de falta de pessoal especializado para trabalhar com estes jovens. Ou seja, temos aqui um grave problema a carecer de intervenção urgente. Lamentavelmente, estes jovens, como realça o título da entrevista, são “vítimas”, mas só se olha para eles como agressores e “quando se tornam agressores”.

Um falhanço social absoluto. Em vez de Um Desafio para a Segurança, mote proposto pelo Comando Metropolitano de Lisboa da PSP para o seminário que promoveu, eu preferiria Um Desafio para a Sociedade.

Almerinda Bento