Artigo:“Inteligência” a todo o custo ou a normalização de uma geração

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“Inteligência” a todo o custo ou a normalização de uma geração

O Público anunciou ontem que duplicaram, em sete anos, as vendas de metilfenidato, a ritalina, medicamento usado para tratar perturbações de hiperatividade e défice de atenção (PHDA). Em 2016, venderam-se 270 mil embalagens deste “comprimido da inteligência”, que ajuda as crianças a ficarem mais concentradas e a melhorarem os resultados escolares. O jornal acrescenta que o número de vendas baixou relativamente a 2015 (283 mil embalagens), o que poderá estar relacionado com o aparecimento da atomoxetina, que trata as mesmas perturbações, e cujas vendas subiram de quatro mil embalagens em 2015 para nove mil em 2016.

O mesmo jornal publicou, a 24 de setembro de 2016, uma notícia segundo a qual o Conselho Nacional de Educação (CNE) alertava para o facto de que “A obsessão em ter as crianças mais atentas e sossegadas, com recurso a substâncias químicas, poderá representar um condicionamento irreversível do seu desenvolvimento cognitivo e social que nenhum medicamento poderá recuperar…”. “De acordo com o relatório Saúde Mental em Números 2015, as crianças portuguesas até aos 14 anos estão a consumir mais de cinco milhões de doses diárias de metilfenidato.”.

Perante estes dados, importa perguntar o que é a inteligência? O que é um comportamento adequado? Que tempo têm as nossas crianças e jovens para si, para brincarem e se divertirem, para descansarem e não fazerem nada? Quando estão em contacto com a natureza e o silêncio? Todas estas crianças precisam de tomar estes medicamentos? Que estratégias foram seguidas antes de se optar pela medicação? Quais são as consequências a longo prazo para cada indivíduo, mas também para a sociedade?

Paula Rodrigues