Início de ano letivo - Puxa-se de um lado e destapa-se do outro
Começa hoje mais um ano letivo e em quase toda a comunicação social se reflete sobre a falta de professores e o número de alunos que ficarão sem aulas. Esta é uma preocupação dos profissionais da área e deve ser também a preocupação de toda a população.
Os problemas que agora existem são a consequência de um claro desinvestimento na educação. São opções políticas que têm desvalorizado os profissionais da educação, desvalorização que é extensível à sociedade em geral.
Começaram também por estes dias as chuvas e não vale a pena continuar a chover no molhado; os problemas estão identificados há muito: congelamento nas carreiras, desvalorização salarial, precariedade, burocracia, horários desregulados, distâncias, deslocações e tantas outras situações bem apresentadas na reportagem que passou ontem na televisão SIC.
Para os diagnósticos também há soluções que também há muito têm vindo a ser apresentadas pelos sindicatos e pela FENPROF solicitando reuniões negociais ao ME, apresentando propostas e um protocolo de medidas para negociar. Se perguntarmos, cada profissional da educação saberá a(s) receita(s) para a valorização da profissão, basta ouvir ou, melhor, querer ouvir: valorização das carreiras, devolver o tempo de serviço, aumentos salariais, acabar com a precariedade, eliminar a burocracia, modelos de gestão democráticos e horários que permitam aos professores ser professores. É preciso respeitar a classe docente que, embora envelhecida, desiludida e maltratada, é de uma dedicação extrema aos alunos/as.
No entanto, perpassa pelos discursos ministeriais uma grande especulação quanto à falta de professores que advém dos atestados médicos (tentando dizer à população que os professores é que não querem trabalhar porque estão de atestado – como se estar doente fosse uma escolha) e, por outro lado, ataca-se o concurso de professores para acenar com a colocação por escola e com a autonomia que é preciso dar às escolas para escolherem os seus professores, como se este fosse o remédio para todos os males e não a desresponsabilização do ME perante mais um problema, o da falta de professores. Bem sabemos o que adviria da contratação direta feita pelas escolas, não é preciso fazer o desenho disso. De uma assentada, o ME livrar-se-ia de mais uma responsabilidade face à escola pública, e os professores mais adequados ou com mais perfil para cada escola passariam a ser seriados pelas virtudes do amiguismo, eleitoralismo, servilismo e outros ismos, num modelo de gestão que não é democrático, sendo aliado de uma municipalização em curso.
Aproveitar problemas provocados por um claro desinvestimento na educação, para impor políticas educativas paliativas e cada vez menos claras, não é o caminho.
A receita está pronta, os pratos estão na mesa. Falta sentar, não fingir que se negoceia e avançar com a seriedade política que a educação merece. Não adianta tapar de um lado e destapar do outro.
Albertina Pena