Artigo:Inclusão em contexto escolar de diversidades: desafio transversal

Pastas / SPGL / Setores / Ensino Particular e IPSS

Inclusão em contexto escolar de diversidades: desafio transversal

Rute Maria Gaspar de Sousa
I Dirigente Sindical, Ensino Particular e Cooperativo, IPSS e Misericórdias I

No decorrer da nossa experiência, enquanto professores, num determinado contexto escolar e tendo como referência o ensino privado, apraz-nos destacar que, no caso concreto, o estabelecimento escolar é frequentado, largamente, por alunos que pertencem a um estrato social que se qualifica como médio/alto, o que condiciona, também, as expetativas das famílias de acordo com o padrão da rede e do habitus a que pertencem. Não obstante, nos últimos anos, a escola tem implementado medidas que têm como prioridade a figuração da educação inclusiva, estando atenta às especificidades de cada indivíduo, com uma preocupação objetiva de dotá-lo de mecanismos que lhe permitam desenvolver competências, projetadas para o presente e para o futuro. Neste âmbito, constituiu-se um Gabinete de Psicologia para a Educação Inclusiva (GPEI) que apoia a atividade docente na operacionalização de medidas/ acomodações que têm como objetivo corresponder às necessidades de alunos que apresentam dificuldades e/ou bloqueios face a situações diversas de aprendizagem. O GPEI colabora, também, com a Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva, viabilizando o desenvolvimento de uma estratégia de intervenção focada nas dificuldades dos alunos referenciados, permitindo que estes possam desenvolver as aprendizagens essenciais, através da implementação de estratégias diferenciadas que lhes asseguram a possibilidade de atingir conhecimentos definidos por normativos, embora de modo diferente. 

A inclusão responsável é, na nossa opinião, um processo que exige correspondência de toda a comunidade educativa. A inclusão não se impõe por normativos legislados e aprovados e deverá, acima de tudo, traduzir-se por uma atitude e/ou convicção. A inclusão obrigar-nos-á a olhar para o aluno e a perceber onde ele está e não onde consideramos que ele poderia estar. Neste âmbito, a inclusão pressupõe uma aprendizagem social em interação com o meio, traduzindo-se num fenómeno social. No contexto do ensino privado, apesar de não se verificarem casos significativos de abandono escolar, de delinquência juvenil, de violência ou de desregulação parental, há algo que é transversal e comum a todos os alunos, o contexto familiar. As alterações nos estilos de vida que obrigam à permanência dos alunos, por muitas horas, nas escolas, tornaram-se uma evidência que não deverá ser descurada. Esta situação poderia ser mitigada, talvez, se os horários de trabalho fossem desfasados, se o teletrabalho fosse institucionalizado e regulado, de modo intermitente, com o trabalho presencial, se houvesse uma rede de instalações e/ou espaços de apoio, exteriores à escola, onde os alunos pudessem dar continuidade ao seu dia, fora da escola e que não obrigassem à presença, quase permanente, de professores que, na atualidade, não existem em número suficiente para o exercício da multiplicidade de funções que excedem, em muito, o seu horário letivo e os conduzem ao esgotamento físico e social.

As desigualdades e ou/ assimetrias económicas, sociais e culturais promovem, previsivelmente, possibilidades e oportunidades diferentes, pois as famílias não são detentoras do mesmo tipo de recursos. Neste contexto, a resposta da escola deverá contemplar, sempre, a realidade na conceção dos projetos educativos, reguladores da sua atuação, não esquecendo que a exclusão, em espaço escolar, é a primeira etapa de exclusão social. O grande desafio é, então, que a qualificação seja acessível a todos para proporcionar a inclusão. A qualificação profissional, enquanto saber instrumental, permite a possibilidade de integração no mundo laboral e na conceção de um projeto de vida. Os resultados não deverão ser excessivamente valorizados em detrimento dos processos e não deveremos esquecer que a democracia impõe uma ética essencial, onde se evidencia o respeito pela diferença, a defesa dos direitos de todos os cidadãos, a equidade e a igualdade de oportunidades. Consideramos, neste sentido, que tem de haver uma articulação, real, entre a aprendizagem, as pessoas, as especificidades nacionais e as dinâmicas internacionais, onde imperem as abordagens mais integradas no que respeita à estruturação e organização dos conteúdos curriculares e que permitam dotar os alunos de instrumentos eficazes, tendo em vista o mercado de trabalho, as opções e as possibilidades.

Texto original publicado no Escola/Informação Digital n.º 41 | Outubro 2023