Artigo:Heroínas à sua maneira

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Heroínas à sua maneira

O texto que Andreia Friaças publica nas páginas 16-17 do Público de hoje, 26 de outubro de 2020, é perturbante, mas também motivador. Tem como título “Mulheres sem-abrigo lutam para sair da invisibilidade e da rua” e centra-se na história de vida de Carla Emídio, com 47 anos, dos quais os últimos 8 passados entre quartos, albergues e na rua. Perturbante porque nos confronta com a incapacidade que temos demonstrado para encontrar soluções para estes casos: abandonada pelo companheiro, caída no desemprego, sem apoio familiar, a rua torna-se a única solução. Mas Carla Emídio parece ser de ferro, não desiste. Cito o texto referido “Nos últimos meses Carla tem tido a oportunidade de partilhar as dificuldades que enfrenta enquanto mulher em situação de sem-abrigo. Aos sábados, em Lisboa, encontra-se com outras mulheres que dormem na rua, em albergues, edifícios obsoletos, que estão prestes a ser despejadas ou que vivem em casas indignas. No mesmo grupo, há também activistas de vários colectivos que lidam, de alguma forma, com problemáticas das mulheres: grupos feministas, de apoio à habitação, ambientalistas, anti-racismo”. Diz-nos Carla Emídio que formaram um grupo, chamado Mulheres pelo Direito á Habitação para mostrarem à sociedade que existem e que têm direito a viver uma vida em condições e que para isso” precisam de ter um alojamento privado, estável, seguro e com privacidade.”

Carla tem um filho de 12 anos que vai vivendo em “espaços cedidos por instituições”. Em que escola andará? Que apoios pode a escola dar a estas situações extremas? Recordo duas afirmações do vídeo com que a Internacional da Educação comemorou o Dia do Professor neste ano “pandémico”. “As escolas fornecem muito mais do que educação formal. São comunidades onde os alunos fazem amigos e recebem apoio dos seus professores e aprendem a viver em sociedade”(Lily Garcia, USA) e “E para muitos alunos pobres e vulneráveis é o único espaço seguro das suas vidas. É aqui que muitos recebem diariamente a sua única refeição” (Marlis Tepe, Alemanha). Que amigos terá o filho de Carla? Que professores estão em condições de o apoiar? Comida na escola, terá certamente, se a frequentar. Do mal o menos…

Carla é uma heroína que nos perturba.

António Avelãs