Há 46 mil alunos sem actividades extracurriculares por opção
É com este título no «Público» de 25 de Maio que temos conhecimento que este número representa cerca de 15% dos estudantes do 1º ciclo. São os próprios encarregados de educação que decidem pela não inscrição dos seus educandos, sendo que, segundo a CONFAP, essa decisão tem a ver com a falta de qualidade de algumas das ofertas.
A notícia refere a fonte: dados de Abril da Direcção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, resultantes de um inquérito às escolas públicas. No ano lectivo passado estiveram inscritos 272. 765 alunos nas AEC, ou seja, 85,4% do total de inscritos do 1º ciclo. 14,6% não tiveram essas actividades, ou seja, 46.644 alunos.
Aliás, como refere a notícia, o número de crianças inscritas tem vindo a diminuir nos últimos anos, sendo que a falta de qualidade da oferta é um motivo apresentado para este desinteresse por parte dos encarregados de educação, o que contrasta com as suas expectativas, quando a medida surgiu em 2005/2006 no pacote do programa “Escola a tempo inteiro”.
Seria interessante aprofundar esta falta de interesse dos encarregados de educação nesta oferta para os seus filhos. É urgente repensar este modelo de AEC. Antes de fazer uma avaliação ao modo como funcionam as AEC no 1º ciclo de ensino, o governo já anunciou a intenção de alargar o conceito de “escola a tempo inteiro” para o 2º ciclo, lançando em Setembro um projecto-piloto em dez agrupamentos de escolas.
A verdade é que a realidade das AEC, ao pretender-se que funcionem como uma resposta social às famílias, tem-se configurado como mais escola e mais actividade lectiva numa sobrecarga para as crianças. Estas actividades decorrem, na maior parte das vezes, no mesmo espaço das aulas e nos mesmos moldes. Por outro lado, as mesmas tendem a ser avaliadas por parte das estruturas educativas nos mesmos moldes e com as mesmas exigências da actividade curricular. É mais do mesmo.
Fica, desta forma, subvertida a ideia inicial prevista na Lei de Bases do Sistema Educativo, com “acções orientadas para a formação integral e a realização pessoal dos educandos no sentido da utilização criativa e formativa dos seus tempos livres”, visando “o enriquecimento cultural e cívico, a educação física e desportiva, a educação artística e a inserção dos alunos na comunidade”, valorizando “a participação e o envolvimento das crianças na sua organização, desenvolvimento e avaliação”. Ao invés, a excessiva escolarização das AEC com ofertas com carácter segmentado, disciplinar e formal mataram o tempo para brincar, o carácter lúdico das actividades, a criatividade e o usufruto de espaços fora da sala de aula. Crianças enclausuradas no espaço escolar, sujeitas a horários, antecipando a idade adulta.
Esta denominada “escola a tempo inteiro” é sustentada por trabalho muito precário. O Governo, ao mesmo tempo que quer implementar o modelo, também se desresponsabiliza ao transferir verbas para autarquias, empresas e outros que vão contratar, sempre pelo menor custo, sem a garantia de qualquer direito, pessoas que assegurem a tão propalada bandeira.
A quem poderá interessar uma resposta social às famílias que sobrecarrega as crianças e assenta em trabalho precário? Não admira pois que o interesse dos encarregados de educação se reflicta na diminuição de inscrição dos seus educandos nas actividades extracurriculares.
Almerinda Bento