Artigo:"Greves, feriados e ponte tiraram cinco dias de aulas num mês"

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"Greves, feriados e ponte tiraram cinco dias de aulas num mês"

Jornal de Notícias, 25/05/17

O zelo mártir de uma certa parte do povo face aos próprios direitos, regalias e banal sorte, como esta dos feriados, do direito à greve e de uma dispensa generosa em nome da concordata, é perturbante. Tirem-lhe o trabalho e a ilusão de dever cumprido, e pronto, escancara-se em cada um deles o espectro de Salazar, num fluxo digital contínuo de apedrejanços inquisitoriais aos parcos momentos de eventual felicidade que poderiam ter vivido, ou pior, quiçá até realmente vividos por outros.

Claro que o vil espetro, como é próprio de todos os espetros, anda por aí, vogando, encarnando aqui e acolá, como fazem clara prova certas existências excessivas altamente suspeitas, como as de Medina Carreira, Nuno Mello, Passos Coelho, João Salgueiro, Ulrich, Luís Albuqurque e afins, sempre certeiros na identificação do mal na Terra: os direitos adquiridos dos trabalhadores - sim, trabalhadores, aqui não usamos novilínguas liberais de algibeira; por norma os colaboradores são executados.

Os apologistas duma economia purificada do Mal, tendem, fruto da incandescência do espírito, a desenvolver pontos cegos no raciocínio enquanto labutam como o problemas dos trabalhadores folgazões. Esquecem-se, por exemplo, da problemática da produtividade, e como o trabalhar muitas horas ou dias, não tem necessariamente que ver com o desenvolvimento de uma economia pujante, sendo antes determinante fatores como a inovação, as qualificações dos trabalhadores, o marketing, etc.

Pior ainda, esquecem-se da enorme crise civilizacional que lateja qual bolsa magmática a inchar, decorrente do não resolvido problema da automatização versus trabalho. O que pensam os iluminados trampianos relativamente a isto? Talvez que com alguns muros fique resolvido.

João Correia