Greve
Hoje, por distritos, a começar no Porto.
Num tempo em que o próprio direito à greve tem sido posto em causa de várias formas, incluindo a definição abusiva de supostos “serviços mínimos”, mas também no plano jornalístico através de tomada de posições editoriais, como a de Manuel Carvalho no dia 7 de abril, a propósito da greve que se inicia hoje:
“Por que razão temos estas greves intermináveis? A resposta crua, mas indispensável, está aos olhos de todos: porque há hoje em Portugal uma enorme desproporção entre os custos para os grevistas e os custos para a sociedade.”
Manuel Carvalho pertence àquela casta de gente que nunca precisará de fazer greves, pois, pelas funções que ocupa e ideologia que defende, dinheiro e benesses nunca lhe faltarão.
Hoje, o significado da luta dos professores e de outras classes profissionais tem uma importância cívica e política acrescida face às ameaças que pairam à manutenção do Estado Social e dos serviços públicos, no contexto de uma comunicação social dominada por comentadores de direita, sem qualquer vergonha ou pudor.
Ainda pegando nas palavras de Manuel Carvalho acima referidas, o que dizer da “enorme desproporção” no custo social decorrente da disparidade entre a evolução dos salários dos CEO e dos trabalhadores:
“Jerónimo Martins e Sonae lideram disparidade entre vencimento médio dos funcionários e o que recebe o líder. Em apenas 10 anos, com duas crises pelo meio, a remuneração dos gestores subiu 47% em 10 anos, a dos trabalhadores recuou 0,7%. (…)” Citado por: SPGL - Não é só imoral, é obsceno.
Ora aqui está um assunto interessante para Manuel Carvalho abordar (ele que se diz duma completa independência editorial relativamente ao seu empregador, o grupo SONAE), sem cair naquela resposta fácil, tipo “É a meritocracia, estúpido!”.
João Correia