Artigo:Ganhos da educação a cair

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Ganhos da educação a cair

O jornal “Público” de hoje remete-nos logo na capa para um estudo sobre O Estado da Nação feito por investigadores da Universidade do Minho, da Universidade de Aveiro e da equipa da Fundação José Neves. Lê-se “Um curso superior em Portugal rende menos do que um secundário em 12 países”. O artigo de duas páginas na secção Economia do jornal “Público” está bem documentado com números e com diversos gráficos e merece uma leitura atenta. Mais um estudo que deverá merecer a melhor atenção dos governantes, de quem decide, para que não fique tudo na mesma. No relatório anual que a Fundação José Neves apresentou em 2021, falava-se dum “retrato de um país ameaçado pelo marasmo.” e mostrava que os jovens licenciados tinham tido a maior quebra salarial na década passada (17%).

A actualização que a edição deste ano faz desta informação indica que os jovens licenciados viram o salário recuar 15%; entre mestres a queda foi de 12% e entre os mestres e os doutorados foi de 22% na última década. Pelo que conclui o relatório que “o efeito da educação no mercado de trabalho para a mesma faixa etária, mas em diferentes períodos do tempo, confirma que os ganhos salariais associados à educação têm diminuído”. “Enquanto para as gerações nascidas nos anos 50, um ano adicional de escolaridade aumentava o salário em 9,1%, para as gerações nascidas nos 90, esse valor caiu para quase metade e não ultrapassava os 4,8%” lê-se no relatório. A produtividade cresceu menos do que as qualificações e o rendimento médio líquido da população portuguesa mais qualificada, entre os 18 e os 64 anos, é hoje mais baixo do que há dez anos. Entre 2010 e 2020, o rendimento médio anual dos portugueses que têm formação superior caiu 6,5%. Os que têm o ensino básico viram o rendimento médio subir 11% e os portugueses com ensino secundário tiveram um aumento de 5%.

Estes dados, se comparados com homólogos a nível internacional, dão um retrato ainda mais desolador. Em 2020, os trabalhadores com o secundário em 12 países – Itália, Irlanda, Finlândia, França, Malta, Bélgica, Países Baixos, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Áustria e Luxemburgo – ganham mais do que os licenciados portugueses. Assim como os trabalhadores com o ensino básico da Finlândia, Países Baixos, Dinamarca e Luxemburgo. Que incentivo é dado aos jovens portugueses para investir na sua educação e formação? Que incentivo é dado aos nossos jovens para não emigrar?

O estudo diz também que “o aumento dos salários requer maior produtividade”, sendo que esta melhora com a qualificação do pessoal. A solução estará em trabalhar mais? pergunta o jornalista Victor Ferreira, autor do artigo a que me reporto, para a qual a resposta é um inequívoco “não”. Os autores do estudo que hoje é publicado também são claros: “Num país em que já se trabalha um elevado número de horas, uma melhoria de produtividade não advirá de um aumento do número de horas trabalhadas, mas sim da eficiência desse trabalho e do valor do produto.” “A estagnação e o desfasamento face à média europeia deve-se sobretudo a fragilidades internas.” Já para não falar das baixas qualificações de muitos patrões – 47,5% nem sequer têm o secundário – o problema é que há uma “alocação não optimizada das qualificações”. “Vinte por cento dos licenciados estão a fazer trabalhos para os quais não precisavam de licenciatura”. Acrescenta o jornalista na sua peça “ Um quarto dos trabalhadores tem qualificações a mais para o emprego que tem.”

Quando o investimento é na precariedade, nos baixos salários, na desqualificação do potencial humano… o nosso investimento tem de ser na educação, na formação, na defesa dos direitos e na dignidade do trabalho.

Vamos à luta.

Almerinda Bento