Artigo:Furtos de alimentos disparam

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Furtos de alimentos disparam

Na sua edição de domingo, dia 23 de outubro de 2022 o Expresso  num artigo de Joana Pereira Bastos, aborda a questão da inflação e do aumento do número de furtos de alimentos.

A autora revela neste artigo que ”vários supermercados estão a colocar alarmes em produtos alimentares, como bacalhau, salmão congelado e até garrafas de azeite ou latas de atum. Segundo a Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED), que representa o sector, o investimento na instalação de mais sistemas de segurança é justificado pelo aumento dos furtos de alimentos, que se acentuou nos últimos meses, com o agravamento do custo de vida.”

Como diz o presidente da APED, Gonçalo Lobo Xavier:” É um fenómeno que está efetivamente a subir bastante, sobretudo desde o início de setembro e em particular nos grandes centros urbanos de Lisboa e do Porto” adian­ta ainda que o leite e a comida enlatada, como as salsichas e o atum, estão entre os produtos mais visados. “Não há nenhuma dúvida que são roubos para comer. É o primeiro sintoma de uma grave crise social”.

Cláudio Ferreira, presidente da Associação Nacional de Vigilância e Segurança Privada, sector que garante a vigilância dos supermercados, confirma: “Nos últimos dois a três meses nota-se um aumento muito significativo dos furtos de alimentos por parte de pessoas que já não conseguem sobreviver com o seu salário ou pensão. Estão desesperadas e escondem na mala ou no casaco pacotes de leite ou latas de atum para comer ou dar aos filhos.

Por sua vez, relata Edson Alves, que trabalha como segurança num supermercado da Areo­sa, no Porto “ Muitas situações, no entanto, não chegam a ser participadas às autoridades. “São casos de necessidade que dão muita pena. E quando assim é, não costumamos chamar a polícia”. Nos últimos meses, o vigilante, de 49 anos, tem detetado cada vez mais tentativas de furto de alimentos. “Temos apanhado muitos idosos a tentar levar pão, salsichas ou atum. Há pouco tempo vi um idoso a tentar roubar batatas e uma senhora de idade a esconder pastéis de bacalhau no bolso. Quando a abordei, pediu muita desculpa e explicou que tinha fome. E há mulheres com filhos que dizem que já não têm como lhes dar de comer. É muito triste. Chego a dizer-lhes: ‘Prefiro que me peçam. Não sou rico, mas posso oferecer alguma coisa.’ E eu próprio vou à caixa pagar”, conta.

No supermercado onde trabalha este vigilante, o aumento dos furtos levou a gerência a instalar alarmes em alimentos como o polvo congelado e a picanha e a diminuir as quantidades de produtos expostos nas prateleiras, como acontece com o café. Tal como as conservas, o café “é neste momento um dos artigos mais suscetíveis de furto”, segundo disse ao Expresso fonte do Continente, sem, no entanto, adiantar números quanto à dimensão do fenómeno.

Nas grandes cadeias de distribuição, cada loja tem autonomia para decidir a instalação de alarmes nos produtos em que se registem maiores quebras de stock, o que significa que os artigos com alarme podem variar de estabelecimento para estabelecimento. A instalação deste sistema de segurança é dispendiosa e só é feita quando o custo compensa o que se perderia em furtos. E nos últimos meses têm sido cada vez mais os supermercados a avançar para este investimento.

Está a haver um problema grave de quebra de stock por furto, sobretudo nas lojas de rua e não tanto nos hipermercados”, justifica o responsável de uma das maiores cadeias, que prefere não ser identificado. Em causa já não estão apenas artigos de perfumaria e álcool premium, tradicionalmente os que mais desapareciam e que já era costume terem alarmes, mas cada vez mais “produtos alimentares básicos, como o bacalhau e o atum”, diz.

Neste pequeno artigo é referido que quase dois milhões de portugueses vivem com menos de €554 por mês e a população em risco de pobreza está a aumentar. Cerca de 500 mil pessoas dependem de apoio alimentar e que o número de pedidos está a subir de forma acentuada, segundo informação da presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares contra a Fome, Isabel Jonet: “Só o leite, por exemplo, aumentou 35%. A escalada de preços é brutal e as famílias mais pobres, que já viviam no limite, não têm nenhuma margem para suportar estes aumentos”.

Conclui-se afirmando que perante o crescimento dos pedidos de ajuda, há o risco de a própria rede de emergência colapsar e de as institui­ções no terreno não chegarem a todos os que precisam.

Perante a dimensão do problema, Gonçalo Lobo Xavier defende que é urgente aumentar os apoios do Estado às famílias. Mas garante que as cadeias de supermercados — cujos lucros dispararam nos últimos meses — querem contribuir para a solução. “Estamos a pensar em mecanismos para ajudar as pessoas mais caren­ciadas”, informa.

Triste e preocupante! E que tal pensar um pouco sobre isto!!

Ana Cristina Gouveia