Fome!

A grande maioria de nós, felizmente, nem faz a mais pálida ideia do que isto seja.
Talvez seja por isso que convivemos tão bem com ela, que a nutrimos tão bem e a mantemos como condição indispensável aos modelos de desenvolvimento e de crescimento económico mundial e perpétuo.
Não há paliativos, o problema da resolução da Fome no Mundo é incompatível com o modelo de "desenvolvimento" globalizante que tomou, de há décadas a esta parte, conta do nosso planeta. Se calhar foi desde sempre.
No entanto, dirão os capitalistas liberais, nunca se viveu tão bem no mundo como agora e sustentam que foi graças a esta forma de encarar o desenvolvimento das sociedades que esse desiderato foi atingido.
É ver as ultimas declarações do homenzinho mais rico do mundo neste sentido.
Os dados são objetivos; nunca se produziram e transacionaram tantos bens como por estes tempos que vamos vivendo.
Sem dúvida, é indesmentível. A questão é: à custa de quem e em beneficio de quem?
Aí os dados também são clarificadores. Segundo o ultimo relatório da Oxfam, por altura do encontro de Davos, intitulado "Lucrar com a fome" , são necessárias apenas 30 horas para que o mundo gere mais um multimilionário e, vinque-se bem, 33 horas para que mais 1 Milhão de pessoas passe à situação de pobreza extrema.
Neste momento, segundo a mesma fonte, os 10 homenzinhos mais ricos do mundo detêm uma riqueza maior que os 40% da população Mundial mais pobre.
Os alertas da ONU são aterradoramente elucidativos.
Depois de tantas e tão profundas revoluções à escala planetária, e desde tempos imemoriais, é bastante significativo, e nada abonatório para a nossa espécie, que ainda não tenhamos resolvido politicamente, porque é disto que se trata, o flagelo da Fome no Mundo.
Ao que tudo indica, caminhamos impotentes, noventa anos depois, para mais uma crise alimentar, agora à escala global, com epicentro na região cerealífera, veja-se o paradoxo, Rússia-Ucrânia.
Acho que todos nós devíamos dispensar um pouco de cada dia que por aqui andamos  a pensar neste problema, que nos tem andado distante; o da escusada e inadmissível Fome Mundial e das razões que a sustêm.
Ricardo Furtado