Artigo:Falta de professores / 1.º CEB: Retrato da crise docente

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Falta de professores / 1.º CEB: Retrato da crise docente

Cátia Domingues | Vice-Presidente SPGL

O arranque do ano letivo de 2025/2026 volta a expor, de forma gritante, a falta de professores no 1.º ciclo do ensino básico. Em muitos agrupamentos, dezenas de turmas continuam sem professor titular, situação que impede centenas de crianças de iniciar as aulas com normalidade. A solução encontrada por algumas escolas tem sido recorrer a docentes não profissionalizados, uma resposta precária e inaceitável para um nível de ensino que constitui a base de todas as aprendizagens.

A realidade mostra também uma tendência preocupante: a fuga de professores do 1.º ciclo para outros grupos de recrutamento. Mal surge oportunidade, muitos docentes optam por lecionar em áreas que lhes oferecem melhores perspetivas, menos sobrecarga burocrática e condições de trabalho menos desgastantes. No 1.º ciclo acumulam-se responsabilidades: turmas sobrelotadas, um único professor acompanha a turma a todas as disciplinas, é responsável pela relação direta com as famílias e ainda absorve uma pesada carga administrativa. Tudo isto com horários longos, baixos salários e sem a valorização profissional que se exige.

Perante este quadro, não basta improvisar soluções de emergência. A resposta exige valorização efetiva da carreira docente, melhoria das condições de trabalho e investimento público, para garantir que cada turma tem um professor estável, profissionalizado e reconhecido. A escola pública só será justa e inclusiva se todas as crianças tiverem direito a um professor.

Texto original publicado no Escola/Informação  n.º 312 | setembro/outubro 2025