Factos são factos
O jornal “Público” de hoje traz-nos dois artigos relacionados com a Educação que reforçam áreas apontadas como prioridades pelos sindicatos dos professores. Dentro da campanha de ataque aos sindicatos e ao sindicalismo, quer a tutela, quer a comunicação social, ao desvalorizarem estes temas, enformam uma imagem de que os sindicatos são estruturas ultrapassadas e sempre do contra… Mas factos são factos e os estudos estão aí para confirmar quem tem razão.
Começo com a notícia da página 12, na secção Sociedade, assinada por Clara Viana, com o título “Escola a tempo inteiro serve para apoiar famílias, não reforça aprendizagens”. A partir de um documento de trabalho da OCDE, em que foram analisados 6 países, de entre os quais Portugal, o nosso país é apontado como mau exemplo, quer ao nível da qualificação dos seus profissionais, quer pelas condições de trabalho e remuneração e por consequência, pela falta de pessoal disponível para desempenhar essas tarefas com a qualidade que elas merecem. Partindo deste número brutal de horas de aulas a que uma criança portuguesa de 7 anos é sujeita – 1080 horas/ano – tendo em conta a excessiva carga académica desequilibrada das necessidades das crianças para actividades de lazer e de desenvolvimento emocional, conclui-se que esta escola a tempo inteiro falha o alvo, que é o desenvolvimento da criança. Quando se discute a eficácia deste recurso, o documento de trabalho da OCDE conclui o “impacto positivo modesto nos resultados escolares, sobretudo os registados pelos estudantes de meios desfavorecidos”.
A primeira página do “Público” remete para a página 26, para a secção Economia com o título “Portugal tem a maior disparidade educativa da Europa entre gerações de trabalhadores”. Desta vez a análise é feita aos 27 países da União Europeia e Portugal aparece no topo do gráfico pelas piores razões. “Entre os trabalhadores entre os 25 e os 34 anos, 75,2% completaram o ensino secundário, ao passo que os entre os 35 e os 64 anos só 46,5% concluíram estudos secundários. Isto resulta num intervalo de 28,7%, a maior de entre todos os países da EU a 27”. O retrato dá-nos mais de metade dos trabalhadores e empresários portugueses mais experientes sem o ensino secundário ou sem ele completo e com uma baixíssima adesão à formação ao longo da vida, explicada por falta de tempo e de dinheiro, segundo dados do Eurostat. Para a OCDE “Portugal está entre os que têm o pior enquadramento financeiro para a educação e aprendizagem ao longo da vida. É o país onde é mais urgente apostar na formação dos seus adultos.” Cito Victor Ferreira, o jornalista responsável por esta notícia do Jornal, que sintetiza assim a situação da formação no nosso país: “Cerca de metade da população activa tem baixos níveis de escolaridade num país em que um quarto dos trabalhadores até tem qualificações a mais para o emprego que tem e em que apenas um terço das empresas tem patrões com formação superior.”
Está tudo dito. Factos são factos.
9 de Novembro de 2021
Almerinda Bento