Artigo:Exposição Irene Lisboa: Professora, Escritora...Mulher

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8 de março
Dia de luta e homenagem

Dia de Luta
Há 45 anos, a Organização das Nações Unidas oficializou o Dia Internacional da Mulher como símbolo das lutas das mulheres operárias em várias partes do mundo desde o final do século XIX. O dia 8 de março tornou-se um marco na história da emancipação das mulheres, mas é também um dia para ganhar balanço para a luta pelos direitos que ainda nos são negados.
Quatro décadas de democracia em Portugal permitiram avanços notáveis na luta pela igualdade entre homens e mulheres, mas persistem desigualdades estruturais em várias esferas da vida que imprimem uma linha divisória entre elas e eles e espelham uma teia de relações de dominação cujo fio condutor é o sistema patriarcal dominante. A igualdade a que aspiramos continua a esbarrar com discriminações de género a vários níveis: o desemprego, a precariedade, as diferenças de rendimentos, a violência doméstica, a sub-representação nas instâncias da tomada de decisão pública e política. Os estudos revelam que as mulheres auferem salários 14% abaixo do dos homens e quando os rendimentos não se restringem aos salários, esse diferencial sobe para 17,8%. Essa discriminação no presente irá ter reflexos mais tarde nas pensões.
Por isso, aqui estamos de novo neste 8 de março para continuar a celebrar as conquistas e lutar pela igualdade plena e sem discriminações.

Dia de Homenagem
Homenagear Irene Lisboa é também celebrar o dia 8 de março e recordar uma mulher que é exemplo de luta em várias frentes desde logo pela emancipação, liberdade de expressão e acima de tudo como professora e pedagoga em luta por uma educação inclusiva, crítica e emancipadora.
A sua vida e obra refletem processos de luta, conhecimento, denúncia e visibilidade de uma parte da população que muitas vezes se queria invisível e anulada pelos poderes dominantes, as classes sociais mais baixas e desfavorecidas.
Na sua obra têm destaque pessoas comuns: operários/as, empregados/as, mulheres-a-dias e outras. Desta forma, Irene Lisboa evidencia uma parte da sociedade desvalorizada socialmente. A sua vasta obra revela coragem, independência e sentido crítico face às injustiças e discriminações sociais.
Enquanto mulher, durante o Estado Novo, e num tempo em que era ainda mais difícil as mulheres afirmarem-se, Irene Lisboa afirmou-se pela sua independência, sentido crítico, irreverência literária e pedagógica. Um exemplo e uma referência nos dias de hoje e para as lutas que precisamos de continuar a levar por diante. Tendo sido professora do ensino pré-primário e primário, como na altura eram denominados estes ciclos de ensino, lutou por uma visão completamente inovadora que colocava a criança no centro, investindo no potencial de criatividade e liberdade das crianças. A sua passagem por França, Bélgica e Suíça tinha-lhe permitido estudar e contactar experiências, teorias e práticas pedagógicas activas, interventivas, inclusivas e críticas que tentou aplicar com os seus alunos/as, mas que o salazarismo não permitiu, tendo sido obrigada a afastar-se do ensino com apenas 48 anos de idade.
Irene Lisboa era uma mulher tímida como ela própria se confessa e foi uma mulher profundamente desafiadora de todas as regras. Fundou o jornal “Educação Feminista”, escreveu poesia e prosa. O seu livro “Solidão” está muito à frente do seu tempo. Utilizando uma escrita fragmentária, uma escrita que acompanha o pensamento, sem linearidade, mas com linhas de ligação, os seus textos são absolutamente fora do seu tempo. Irene Lisboa foi uma grande inspiradora, tendo Maria Judite de Carvalho sido muito influenciada por ela.

Albertina Pena

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Veja aqui a reportagem fotográfica da Inauguração

Conversa à volta de …"Irene Lisboa - a escola do meu coração"