Eu sou SNS!
A insustentável ligeireza com que se fala do SNS, uns porque sabem muito bem ao que vêm e outros, a maioria, porque nada sabem, é confrangedora.
É que ele há, realmente, posições que ninguém consegue entender, a não ser que use e abuse de critérios de avaliação altamente tendenciosos e, por isso, desonestos. A indescritível narrativa em torno do SNS inscreve-se claramente nesta categoria; a da análise manipulada com o objectivo de atingir um determinado fim.
Vejamos; em todos os países onde não há um sistema público e “tendencialmente gratuito” de Saúde, as populações têm uma assistência médico-hospitalar de muito menor qualidade e, sobretudo, abrangência. Quando a têm.
Por outro lado, quando comparamos a cobertura dos cuidados de saúde prestados em países como Inglaterra, França, Espanha ou mesmo Portugal, com o que acontece nos EUA, percebemos bem o quão importante, para a população em geral, representa existir um SNS. A taxa de mortalidade infantil, por exemplo, não deixa margem para dúvidas; os EUA têm a pior taxa de toda a OCDE.
Atualmente, mesmo com todos os gravíssimos problemas de que padecem os sistemas públicos de saúde em Inglaterra, França, Espanha ou Portugal, as populações, ainda assim, contam com uma muito melhor e mais abrangente assistência médica, se comparada com oque acontece em países onde essa mesma cobertura médica só é assegurada por contratos de seguro particulares. De forma muito significativa os seguros vulgarmente anunciados são apenas para quem não tem problemas de saúde, uma vez as franquias praticadas os tornam praticamente ineficazes logo aos primeiros sinais de doença ou acidente.
Assim, aqui chegados, deparamo-nos com duas questões essenciais: aceitamos ou não que a saúde seja um negócio como outro qualquer, e isto é ideológico ou, por outro lado, entendemos que sendo um bem imprescindível ela deva ser facultada em estruturas construídas e pensadas para o efeito, e isto é claramente político.
Ora, como a nossa Constituição remete explicitamente para a segunda opção, o problema e sobretudo a solução para o SNS é Político.
Por agora, o SNS assemelha-se ”Geni e o Zepelim” de Chico Buarque. São ambos demasiado interessantes e atractivos e se corre mal, o encerramento das urgências, as filas de espera para operações,“…Joga pedra na Geni, Ela é feita pra apanhar, Ela é boa de cuspir…”, se corre melhor, o Covid, os transplantes, “…Você pode nos salvar, Você vai nos redimir, Você dá pra qualquer um, Bendita Geni…”.
O verdadeiro drama do SNS é que o povo vai atrás de quem melhor passa a informação e, quando der por ela, estará a passar de hospital em hospital até chegar àquele, muito longe de tudo, em que possa pagar a fiança.
Ricardo Furtado