“Estudo comprova impacto da pobreza na actividade cerebral dos bebés”
Com este título, o Público de 27 de janeiro (página 30) destaca uma experiência levada a cabo nos EUA. A conclusão do estudo é sintetizada no subtítulo da notícia: “Experiência com 435 crianças de um ano revelou que os bebés de famílias com baixos rendimentos têm uma atividade cerebral distinta dos bebés que crescem em famílias com mais dinheiro”. E a distinção não é para melhor, como o texto vai deixando claro. A pobreza dos pais parece, pois, afetar as crianças desde a nascença, causando “diferenças” cerebrais logo após o 1º ano de vida.
Em Portugal, os últimos dados publicados apontam para 1,6 milhões de cidadãos vivendo abaixo do limiar de pobreza (540 euros/mês) e para 18,4% (cerca de 1,9 milhões) em risco de pobreza. Deve de aqui concluir-se que o combate à pobreza é a mais importante medida para a construção de uma sociedade justa. Também aqui a “esquerda” se distingue das ideologias de direita. Uma parte da direita, face às desigualdades de sucesso escolar e social, argumenta com a “meritocracia”. Isto é, as diferenças de resultado assentariam no “mérito” de cada um, esquecendo que a possibilidade desse mérito depende de crescer numa família rica, pobre ou muito pobre. Outra parte, mais moderada, dessa direita, desenvolve a teoria da “igualdade de oportunidades”, propondo um conjunto de medidas que favoreçam esses “mais pobres”. Não é de desprezar, mas não há medidas, por mais generosas que sejam, que anulem os efeitos da pobreza desde a nascença. Por isso, compete à esquerda atacar a raiz do problema: o combate firme e lúcido para acabar com a pobreza. Utopia? Seja. Sonhar faz avançar o mundo!
António Avelãs