Artigo:Especulação imobiliária redux

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Especulação imobiliária redux

Foi recentemente noticiada a “subida mais acentuada dos últimos oito anos” nas rendas das casas, sobretudo de Lisboa e Porto. Inúmeros fatores concorrem para que esta tendência se tenha consolidado ao longo desse período, destacando-se o facto de ambas as cidades se terem afirmado enquanto destinos turísticos cada vez mais apelativos à escala internacional. Este processo de “mercadorização” da cidade e do espaço urbano, contrariamente ao que tem sucedido noutras grandes cidades europeias, como Londres, Barcelona ou Berlim, tem merecido o apoio deslumbrado e incondicional dos executivos municipais. Enquanto não se tomarem medidas de fundo, integradas e a diferentes escalas, com vista à regulação do setor imobiliário, sobretudo no que diz respeito à função residencial mas não só, a tríade turistificação-gentrificação-expulsão irá tornar-se mais relevante e as cidades tornar-se-ão cada vez mais inacessíveis para a maior parte da população. Efetivamente, a cidade-mercadoria é feita para o lucro e não para as pessoas comuns. A médio/longo prazo, quando a bolha especulativa rebentar ou quando Lisboa e Porto, por força da acelerada homogeneização urbanístico-cultural a que estão sujeitas enquanto cidades globais, perderem a aura e o encanto que hoje parecem ter e se tornarem iguais a tantas outras, o que será feito das pessoas que entretanto partiram para periferias suburbanas cada vez mais longínquas e inacessíveis?

André Carmo