Artigo:ESCOLA INFORMAÇÃO Nº 267

Pastas / Informação / Escola Informação

O CAMINHO INTENCIONAL DE CRATO
PARA A DEGRADAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA

Porque lhe interessa criar uma imagem negativa da Escola Pública de modo a abrir campo para a expansão do ensino privado à custa dos dinheiros públicos, e com isso fundar um sistema de ensino dividido entre escolas de elites (privadas) e escola públicas de menor qualidade para a maioria dos cidadãos, Nuno Crato e a sua equipa insistem em manter para os concursos de colocação de docentes este ano a mesma legislação que criou o inaudito caos na abertura do ano letivo em curso. Em tempo útil a FENPROF apresentou propostas de alteração que, embora ligeiras, permitiriam solucionar a questão. Nuno Crato, do alto de uma sobranceria que o impede de reconhecer o óbvio, ignorou as propostas, prenunciando uma abertura do próximo ano letivo tão caótica como a deste ano. A mesma sobranceria que exibe ao insistir numa Prova de Avaliação de Conhecimento e Capacidade, vulgo PACC, desacreditada em termos duríssimos por instituições como o próprio IAVE, o CNE, e a comunidade científica da área da Educação e cuja legitimidade os próprios tribunais põem em causa. Crato não demoliu o Ministério da Educação, pretensão que apregoou aos quatro ventos, mas vai demolindo, intencionalmente e passo a passo, a escola pública. Temos de lhe travar o passo.

A greve dos trabalhadores da Administração pública, a que o SPGL aderiu, do dia 13 de março, para a qual foi possível obter uma certa convergência entre sindicatos da Frente Comum, da FESAP e independentes – convergência que se saúda e que é necessário aprofundar – mostra que, apesar dos violentos ataques a que foram sujeitos, em nome de um política de empobrecimento imposta pela “troika” e entusiasticamente executada pelo governo Passos Coelho/Paulo Portas, os trabalhadores continuam a resistir e a acreditar que é possível mudar este estado de coisas, derrotar estas políticas e criar condições para uma nova maneira de pensar a sociedade em que queremos viver: uma sociedade que respeite os direitos de quem trabalha, orientada por objetivos de igualdade e de justiça social e na qual a Educação terá um papel determinante de motor do desenvolvimento económico e social.

Este será o meu último Editorial enquanto presidente do SPGL. As eleições para os próximos corpos gerentes do sindicato decorrerão em 14 de maio. Saio deste espinhoso cargo com a consciência de que ajudei a construir um sindicato forte, reconhecido e prestigiado junto dos professores, educadores e investigadores, mesmo dos que não decidem sindicalizar-se no maior sindicato de docentes do país. A nossa real ligação às escolas faz-se de forma direta e quotidiana: os nossos dirigentes mantêm-se nas suas escolas como docentes, o que lhes permite uma leitura e uma consciência muito mais objetiva do que se estivessem a tempo inteiro como dirigentes sindicais. Ao longo destes três mandatos como presidente, o SPGL aprofundou a sua democracia interna, conseguiu operar uma reestruturação necessária face às dificuldades financeiras criadas pelos cortes salariais impostos pelo governo, mas respeitando os direitos dos seus trabalhadores. Manteve um elevado número de sócios apesar da brutal redução do número de docentes no sistema. Fez pontes com movimentos sociais progressistas, empenhou-se nas lutas de todos os trabalhadores, fez pontes com outros sindicatos na procura de uma unidade que reforce os trabalhadores. Desenvolveu uma atividade cultural que lhe granjeou reputado prestígio, envolveu de forma dinâmica na sua atividade os aposentados que continuam ligados ao seu sindicato de sempre.
Fez, no passado mês de fevereiro, um excelente Congresso – de que as páginas deste número dão cuidada informação - que reforçou o entendimento sindical que fazemos: a necessidade de agir sustentada numa análise rigorosa e científica dos fenómenos educacionais.
Quero crer que, com a próxima direção, o SPGL continuará a ser a força dos professores, uma força indispensável na construção de uma Escola Pública de Qualidade; uma força indispensável na defesa dos direitos dos docentes e na construção de uma sociedade onde ser professor seja mais gratificante.
Agradeço a todos os que me ajudaram no trabalho que, permitam-me este autoelogio, desempenhei com dedicação. Obviamente, continuarei a lutar neste sindicato, de certa forma ímpar no movimento sindical português.
Obrigado a todos.