Artigo:ESCOLA INFORMAÇÃO Nº 262

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Contra a política do empobrecimento  “a todo o gaz”

Num momento em que o governo PSD/CDS-PP torna ainda mais claro o seu projeto de empobrecimento perene dos portugueses – mesmo que disfarçado com o solene e repetido anúncio de ligeiras melhorias de alguns dados económicos – e em que o primeiro ministro, desmentindo o que sempre anunciara, pretende tornar definitivos os cortes que apresentara como provisórios – base em que o Tribunal Constitucional se apoiou, em ano anterior, para os “deixar passar” - a exigência de defesa dos salários e das pensões e da reposição dos cortes impostos torna-se ainda mais premente e mais justificada.

Queremos um Portugal com futuro, não queremos um Portugal com salários e pensões terceiro-mundistas. Queremos um país que aposte no desenvolvimento e na justiça social, recusamos um projeto que acentua a desigualdade social e o desinvestimento na formação e na educação. Queremos um país em que os nossos jovens acreditem para que não sejam forçados a emigrar.

Lutar por uma sociedade igualitária, que dignifique o trabalho e respeite quem trabalha e quem trabalhou, lutar por uma sociedade onde faça sentido viver como ser humano, onde a fraternidade e a solidariedade sejam valores que orientem a ação, é hoje “remar contra a maré”. A ideologia do individualismo, do inebriar do sucesso económico, mesmo que à custa da miséria de muitos, do triunfo do mais forte e do desprezo pelos que, pelos mais variados motivos, não conseguem “vencer” (os desempregados, os pobres, os desajustados) tornou-se moda. A moda da “troika”. A moda de Cavaco Silva. De Passos Coelho. A moda do ultraliberalismo que vai corroendo o projeto de uma Europa que se queria solidária.

Remar contra a maré: esta luta é muito difícil. E mais difícil se torna quando os que deviam estar unidos para derrotar as políticas da “direita mais direita” insistem em sublinhar não o que os aproxima mas o que os diferencia, como se as diferenças entre eles fossem mais importantes do que a luta contra um inimigo comum.

O 25 de Abril de 1974 projetou-nos para uma sociedade onde se consagraram importantes direitos sociais. É provável que os mais novos, que – felizmente - não viveram a sociedade repressiva, retrógrada e desumana do fascismo lusitano, tenham alguma dificuldade em saborear o acesso de todos à escola pública, o acesso geral a um serviço nacional de saúde que, apesar dos ataques recentes, continua a ser de qualidade internacionalmente reconhecida, as garantias - cada vez mais limitadas, é verdade - do sistema de segurança social. Sempre viveram com estas conquistas de Abril. Consideram-nas “naturais”, ao mesmo tempo que amargam sobre um enorme desemprego, um enorme vazio de futuro. De que muitas vezes acusam Abril.

Aos professores e educadores que nós somos pede-se uma nobre tarefa: a de entender o conhecimento como um fator de libertação e, portanto, de humanização. De ensinar o que ganhámos com o 25 de Abril; de mobilizar para a recusa do destino de empobrecimento perene que os testas de ferro da desumanização neoliberal insistem em nos impingir como “inevitável”.

Ao trabalho, camaradas!