Artigo:ESCOLA INFORMAÇÃO Nº 254

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CONSTRUIR ALTERNATIVAS PARA A MUDANÇA


1. Não é difícil enunciar os graves problemas com que as nossas escolas se defrontam: os crónicos subfinanciamentos, o desemprego de numerosos docentes, a instabilidade profissional que já se vive no privado e que se anuncia para os “horários-zero” no público, o roubo nos salários e subsídios, a sobrecarga dos horários… Enfim, dir-se-ia que são problemas crónicos. A que há que juntar os mais dramáticos: a fome de muitos dos nossos alunos e as evidentes e agravadas dificuldades económicas com que se defrontam muitos professores e educadores, tudo resultado do descalabro social e económico que se abateu sobre o país com a política neoliberal de Passos Coelho. Tudo isto acaba por produzir um enorme e prematuro cansaço, uma profunda desesperança que vai minando o próprio trabalho pedagógico, por mais forte que seja o apelo do profissionalismo da classe docente.

E contudo não podemos desistir. A dimensão pedagógica, cívica e ética da nossa profissão exige que enfrentemos com robusta lucidez as dificuldades, que procuremos razões, que construamos as soluções. Um professor que não se afirme como cidadão nega-se como pedagogo. É por isso que o SPGL, como os restantes sindicatos da FENPROF, não pode deixar de convocar cada professor para a enorme tarefa de procurar e construir as alternativas – porque o niilismo paralisante da inevitabilidade é a arma dos que querem que nada mude. 

A reflexão cidadã torna claro que a solução dos nossos problemas na nossa escola, não prescindindo da nossa intervenção específica, não depende apenas de nós, antes exige a coordenação dos esforços, das inteligências, das lutas e dos projetos de toda a sociedade, mormente de todos os trabalhadores. Atravessamos momentos cruciais. Às dores acumuladas responde-se com enormes ações de rua. A “rua”, o “povo” reafirmaram o seu papel e o seu poder na espantosa jornada popular de 15 de setembro (ver artigo na pág. 23). Em 29 de setembro, o movimento sindical transformou o Terreiro do Paço no Terreiro do Povo. Alguns milhares de cidadãos, com o Congresso Democrático das Alternativas, procuraram em 5 de outubro linhas de convergência para a saída da crise. Na mesma data se iniciou a marcha de denúncia do desemprego – sem dúvida o maior dos flagelos que assolam o país. A CGTP apela à realização de uma greve geral em 14 de novembro. E ao longo dos tempos muitas outras iniciativas de luta acontecerão. Os professores, exatamente porque o são, não podem ficar indiferentes, ou ser meros espetadores. Lutar, motivado por uma exigência de cidadania, também é educar.


2. O Dia Internacional do Professor – 5 de outubro – foi comemorado, por iniciativa dos sindicatos da FENPROF, com atividades em todo o país. (ver notícia na pag.24) Anima-nos que, apesar das enormes dificuldades com que desempenhamos o nosso trabalho, a nossa população tenha dos professores e educadores portugueses uma imagem muito positiva. Não porque seja o “melhor povo do mundo” mas porque reconhece que a escola, particularmente a escola pública, é uma conquista de Abril, que não quer perder. E sabe que nessa luta tem os professores do seu lado. Esses professores e educadores que, no meio deste enorme desastre social dos dias de hoje, continuam a fazer maravilhas nas nossas escolas. 

Vamos continuar a defender a escola pública; com a consciência de que a sua defesa e a sua melhoria exigem uma política em tudo diferente da que por ora nos oprime. Vamos à procura de alternativas, vamos à mudança!