Artigo:ESCOLA INFORMAÇÃO Nº 253

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E CONTUDO TEMOS ORGULHO EM SER PROFESSORES!

É um saudável costume fazer um balanço sempre que uma atividade ou um período determinado se encerra. Respeitemos a tradição e perguntemo-nos: que balanço é possível fazer do ano letivo que agora termina que não seja o ter de reconhecer que se tratou de um ano horrível? A grande maioria dos portugueses, nela incluindo professores, educadores e investigadores, viu o seu poder de compra fortemente diminuído quer pela marcha galopante e trágica do desemprego, quer pelos brutais cortes salariais (nomeadamente os cortes dos subsídios de natal e de férias aos trabalhadores da função pública) quer ainda pelos sucessivos aumentos dos impostos diretos e indiretos. Num país cuja economia se afunda em processos recessivos uma pequena minoria aumenta a sua riqueza, quantas vezes por meios fraudulentos e criminosos – que os tribunais raramente conseguem julgar e quando o fazem raramente condenam. É imperioso dizer que Portugal se tornou num dos países mais socialmente injustos e onde a desigualdade na distribuição da riqueza mais se acentuou no quadro da União Europeia. Num discurso moralista-punitivo acusa-se “o país” de ter vivido acima das suas possibilidades e, portanto, de estar agora a sofrer o justo castigo. Desta vez o justiceiro não é nenhum dos deuses divinos mas apenas o divinizado neoliberalismo e a sua germânica pontífice. “O país”, se por ele entendermos a generalidade dos seus habitantes, não viveu acima das suas possibilidades, viveu com os esquemas que os poderosos bancos e os governos lhe impuseram. Só uns poucos – os que continuam a enriquecer - terão certamente vivido e, pelos vistos, continuarão a viver, acima das suas possibilidades…

A pobreza alastra, atingindo também largos setores da classe média. Sente-se nas nossas escolas, na fome e má alimentação de muitas das nossas crianças e adolescentes. 

Por outro lado – e certamente não desligado do que antes se disse - a escola pública é vítima de uma pesada contrarrevolução. De uma forma sistemática e ideologicamente inequívoca, mesmo que por pudor não confessada, assiste-se à destruição da escola democrática e inclusiva que generosamente construímos após a revolução de abril. Impõem-nos gigantescos mega-agrupamentos, ao arrepio não só do mais elementar bom senso mas do saber recolhido em outros países – aliás citados, quando convém, como exemplos de sucesso educacional. Regressam em força os exames, mesmo já no 4º ano, como se preparar mecanicamente para os exames fosse o paradigma de uma escola de qualidade e inovadora. A elitização já visível no ensino superior está a alastrar a todos os níveis de ensino, não a elitização fundada nos saberes e no trabalho, mas a que assenta no poder económico das famílias. Tudo está a ser preparado para uma escola (pública e privada) a duas velocidades: a das elites económicas e… a dos outros.

Os professores estão tristes. Descrentes. Alguns estão mesmo amargurados; muitos optam – e quem sou eu para os censurar? – por antecipar a sua aposentação. Há quem abandone o ensino – para lá dos que, pela via do desemprego, são forçados a abandoná-lo.

A capacidade de reagir a este dramático estado de coisas, entre os docentes como entre a população em geral, tem-se mostrado limitada. O que de resto a experiência histórica vem mostrando: a mobilização social é sempre mais difícil em momentos de crise profunda. Mas é neste contexto que urge resistir, lutando com firmeza e com inteligência. É imperioso denunciar o aumento brutal do desemprego docente que se antevê para setembro próximo; não podemos deixar de denunciar a precariedade e a instabilidade profissional que atingem grande parte da classe; não podemos deixar de denunciar a escola menorizada e empobrecida que Crato tenta impor aos portugueses. Há que refundar a democracia nas nossas escolas, alterando o modelo de gestão.

Aos sindicatos compete fomentar, construir e ampliar esta resistência. Eles não têm o exclusivo da resistência, mas são parte fundamental desse processo. É pois indispensável reforçá-los. A sindicalização tornou-se cada vez mais uma exigência de cidadania em nome da defesa da democracia e, no nosso caso, da escola pública.


O SPGL realizou no passado 31 de maio a eleição dos seus corpos gerentes para 2012-2015. Ao elegerem de forma inequívoca – e em eleição cuja transparência “pede meças” a qualquer outra – uma lista que é, em muitos pontos, continuação da direção anterior, os sócios tornaram claro que querem que o SPGL persista no rumo de independência, de exigência e de democraticidade que, contra alguns” ventos e marés”, tem prosseguido. Tudo faremos para merecermos a confiança em nós depositada. Sobretudo tudo faremos para mobilizar os professores em defesa da escola pública, de qualidade e democrática. Tudo faremos, com os professores, para travar a marcha para o empobrecimento do país que este governo parece empenhado em cumprir. Tudo faremos para que o regresso a uma escola democrática e empolgante nos liberte desta tristeza amargurada em que nos mergulharam. Tarefa difícil? Sem dúvida. Mas cumpri-la é uma exigência de responsável cidadania. E sobretudo do orgulho de sermos professores!