Artigo:ESCOLA INFORMAÇÃO Nº 248

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LUTAR POR UM PORTUGAL SOCIAL COM FUTURO

1. DA ESCOLA E DA EDUCAÇÃO
As entrevistas do ministro Nuno Crato, as intervenções na Assembleia da República e a reunião entre o MEC e a FENPROF no passado dia 7 deixam bem claro que não há qualquer plano sério para a escola portuguesa e que o único rumo que orienta o MEC é o satisfazer as exigências financeiras impostas. Nuno Crato ter-se-á dado conta – apenas agora – que não é fácil nem desejável “implodir” o ministério da Educação, mesmo que seja necessário reorganizá-lo. Ter-se-á dado conta de que as nossas escolas são espaços que refletem a enorme crise social em que o país mergulhou e que isso se traduz no aumento da violência e da indisciplina, no aumento de crianças mal alimentadas e, em muitos casos, com fome; terá finalmente percebido que alguns diretores não têm quaisquer regras a não ser a sua vontade arbitrária; terá talvez entendido que a Escola ainda não recuperou da humilhação a que Lurdes Rodrigues tentou submeter a classe docente. Terá certamente tomado consciência da asfixia financeira que as escolas, incluindo as do ensino superior, vêm suportando. Não sei se terá já percebido que só o extraordinário profissionalismo da maioria dos docentes permite que, apesar de tudo, elas funcionem razoavelmente bem.
Nuno Crato ignora a realidade. Mas não é certo que isso o preocupe. Sabe que tem de tomar as medidas ditas “necessárias” para “despedir” uns largos milhares de professores e educadores (seguramente mais de 20000!) e para isso fará um simulacro de reorganização curricular, impulsionará a criação de mega-agrupamentos, reduzirá os cursos e as instituições do ensino superior, medidas estas em que a preocupação e o rigor pedagógico são o que menos interessa. A defesa do superior interesse da Educação exige que nos oponhamos a esta intencional destruição da Escola.

2. DA POLÍTICA
O governo, depois do corte salarial em 2011 (medida do anterior), que se manterá em 2012, voltou à carga na sua sanha contra a administração pública e, por arrastamento, contra todos os trabalhadores. Há quem batize o roubo dos salários e dos subsídios de Natal e de férias como “medidas corajosas” por parte do governo. Mas que coragem há em fazer pagar os mais indefesos – os que estão “à mão de semear” – os desperdícios, os disparates, os crimes económicos de que outros são responsáveis? Que coragem há em fazer recair sobre uns tantos a resolução de um problema do todo nacional? Que coragem há em roubar os mais fracos para que os mais ricos continuem a enriquecer?
Que coragem há em empobrecer o país aumentando dramaticamente o número de pobres e alargando o já enorme fosso social que caracteriza a sociedade portuguesa?

3. DA GREVE GERAL
Ensina-nos a história que todas as mudanças no sentido do progresso social e da defesa das melhorias conseguidas se fizeram com lutas difíceis. Os portugueses confrontam-se com um claro ataque imbuído de um extremo liberalismo cujo objetivo é, a pretexto de inegáveis dificuldades económicas e financeiras, reduzir o Estado ao mínimo, tornando-o incapaz de garantir a qualidade dos serviços públicos essenciais num estado social moderno: a saúde, a educação, a justiça, a segurança social, os direitos e garantias democráticos, nomeadamente os direitos laborais. O que está em causa não são interesses particulares mas sim a defesa de um projeto de sociedade que respeite, mesmo que de forma limitada, os ideais de Abril, que mais não são que os ideais de um país que se pretenda civilizado.
Também a história deixa claro que as lutas não resultam no imediato, antes vão cimentando maneiras de pensar e de sonhar que, quantas vezes aparentemente de forma repentina, se traduzem em avanços e em ganhos sociais indiscutíveis. A greve geral de dia 24 – e há condições para ser uma excelente greve – não resolverá no dia 25 os nossos problemas. Mas obrigará o(s) governo(s) e a sociedade em geral a tomar consciência de que o caminho que está a ser trilhado é o caminho para o empobrecimento, para o descalabro económico e social. Dir-lhes-á que é tempo de mudar de rumo – e que é isso que continuaremos a exigir em nome de um Portugal social com futuro.