Artigo:Escola Informação nº 245

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UMA QUESTÃO DE SENSATEZ

No dia 5 de Junho vamos a votos, que é como quem diz o povo vai ter oportunidade de realizar escolhas para os próximos anos. Escolhas que não se podem limitar à figura do primeiro-ministro como nos pretendem fazer crer. As escolhas que agora realizamos são bem mais importantes que a cara de uns ou de outros. Não importa a dicção ser mais ou menos perfeita, a cara ter uma aparência mais ou menos simétrica (dizem-me que o cérebro humano reconhece beleza nas pessoas em função de uma aparente simetria da face mas eu desconfio que não é bem assim) ou até o à-vontade frente às câmaras de televisão. O que está em jogo nestas eleições é algo de mais importante – a escolha entre os programas do modelo da crise, que se prepara para enormes transferências de rendimentos do trabalho para o capital e aqueles que se opõem a este modelo e, portanto, se opõem aos termos do acordo realizado entre as duas troikas (a nacional e a do FMI/UE/BCE). É a escolha entre uma política de extorsão dos trabalhadores e uma política de afirmação do interesse nacional baseado nas pessoas, nos trabalhadores, no emprego com direitos, no progresso social. Que não renega a dívida nem a necessidade de a pagar mas que quer saber quem deve efectivamente e o quê e questiona os juros, os prazos e o destino do dinheiro. E que não se conforma com o branqueamento das responsabilidades dos que nos levaram a esta situação de quase bancarrota.

Manuel Carvalho da Silva, sempre certeiro nas suas apreciações, fala em golpe de estado constitucional que a troika de partidos do chamado “arco do poder” se prepara para realizar em Portugal. A direita, que em 35 anos nunca tinha conseguido realizar a totalidade de um programa, que é o seu, de privatizações dos monopólios naturais, de baixa dos salários, de ataques descarados à segurança social, ao serviço nacional de saúde e à escola pública, pega agora no programa “negociado” com a troika e, ululante, garante que o vai cumprir. Acredito. É o seu verdadeiro programa. E não só da direita política, a dos partidos que todos conhecemos, mas da direita dos interesses, dos bancos que vão ver parte do empréstimo ir direitinho para os seus capitais próprios (esses mesmos capitais próprios que nunca foram recapitalizados quando os bancos tiveram lucros escandalosos que foram repartidos alegremente pelos accionistas) e dos especuladores nacionais e estrangeiros que levaram o país para a beira do precipício com as suas magníficas parcerias público-privadas e as suas engenharias financeiras.

Na União Europeia é vital pugnarmos por uma Europa dos cidadãos que eleja a solidariedade e a coesão social como prioridade. Pessoas sensatas começam já a dizer que a desgraça dos países do sul pode ser o princípio do fim não só da moeda única mas também da União Europeia, desse espaço que, mesmo com muitas contradições, tem assegurado a paz e o desenvolvimento dentro dos seus limites geográficos. Há soluções possíveis neste quadro europeu, mutualizando os riscos das dívidas soberanas, impedindo práticas de dumping fiscal e protegendo os países dos grandes especuladores internacionais. Mas, também aí, é necessário que as pessoas sejam o centro das políticas e não meros “danos colaterais” de uma guerra que o grande capital hoje move aos trabalhadores de forma a garantir as suas margens de lucro.

No dia 5 vamos a votos. E não acreditem no que vos dizem e repetem todos os dias. Não é inevitável darmos o tal passo em frente rumo ao precipício. Em democracia há sempre alternativas. É necessário “levarmos a luta ao voto” e escolhermos a sensatez dos que apresentam soluções em que as pessoas e o emprego estão em primeiro lugar ao invés dos bancos e das grandes construtoras.