Artigo:Escola Informação Nº 283, junho/julho 2018

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Docentes portugueses

Exaustos mas personalizados: até quando?


José Alberto Marques . Diretor Escola Informação


O estudo promovido pela FENPROF sobre o desgaste entre os docentes (levado a cabo pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) baseou-se em cerca de 19.000 inquéritos obtidos de um universo de cerca de 120.000 professores e educadores. O tratamento dos dados recolhidos nas escolas pelos diversos sindicatos FENPROF, que foi feito por uma equipa de especialistas, coordenada pela investigadora Raquel Varela, daquela Faculdade (com a colaboração de muitos outros de diversas faculdades nacionais e estrangeiras), mostra de forma categórica a resiliência e empenho dos docentes portugueses na sua profissão apesar de revelar igualmente, sem margem para dúvidas, que cerca de 70% deles sofrem de exaustão emocional. Como é evidente na avaliação feita pelo psiquiatra António Coimbra de Matos, os docentes continuam a responder à sua função e missão, cansados mas personalizados. A grande maioria gosta de ensinar mas tem medo de não conseguir cumprir bem o seu trabalho devido ao enorme respeito que nutre pelos alunos, o que agrava ainda mais a sua exaustão emocional.
A extensão dos horários de trabalho, a intensificação das tarefas dentro do horário de trabalho, a falta de autonomia no exercício da profissão, a pouca influência nos currículos e na gestão das escolas, a excessiva burocracia e, em muitos casos, a indisciplina dos alunos, são fatores de desgaste muito preocupantes.
Por outro lado, cada vez mais mergulhados em tarefas pouco relevantes para o processo educativo, ainda por cima repetitivas e muito vigiadas, que provocam o sentimento de ausência de resposta às necessidades dos alunos e da sociedade, os docentes revelam índices muito elevados de falta de realização profissional.
O estudo não permite avaliar a extensão do “burnout” entre os docentes, dado que esta designação em língua inglesa é o termo que define uma doença concreta e o seu enquadramento só pode ser encontrado por especialistas da área médica, mas, se compararmos os seus dados com os de outros estudos que incluíram esta vertente, não nos afastaremos muito da realidade se considerarmos que o “burnout” já atinge uma fatia considerável do corpo docente.
Independentemente de tudo isso, a falta de reconhecimento social, o desrespeito governamental pelo seu trabalho, o desprezo pela recuperação integral do tempo de serviço congelado assim como a ausência de perspetivas de um futuro mais positivo, irão agravar os preocupantes sinais desse “burnout” numa classe profissional já muito envelhecida e em exaustão emocional profunda.
Se as negociações com o ME sobre a recuperação de todo o tempo de serviço perdido (sem esquecer as condições de trabalho e aposentação), adiadas para setembro próximo, se arrastarem no tempo sem soluções à vista, como até aqui, todos os fatores de “stress” se agravarão irremediavelmente e a resposta à pergunta do título deste editorial poderá ser: até muito em breve!
Em nome dos alunos, em nome do país, mas sobretudo em nome de todos os docentes portugueses não podemos permitir esse desfecho!