Artigo:ESCOLA INFORMAÇÃO DIGITAL Nº 1

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Questões soltas mas interligadas

1. Os resultados do programa PISA relativos ao período 2009-2012, recentemente divulgados, evidenciam enormes progressos dos alunos portugueses em várias áreas, nomeadamente na Matemática, colocando-nos perfeitamente na média europeia. O relatório sublinha ainda o bom ambiente em geral nas escolas, nomeadamente quanto à aceitação da Matemática pelos alunos. Este sucesso liga-se aos novos programas lançados pelo governo anterior, acompanhado de um sério trabalho de preparação dos docentes para o desafio lançado que a grande maioria aceitou com entusiasmo. É pois incompreensível, mesmo irracional, que a atual equipa de Nuno Crato pretenda voltar aos programas antigos, ignorando tudo o que foi feito e que possibilitou os sucessos reconhecidos. Irracional e irresponsável.

2. Os rankings, além de reafirmarem que alguns colégios privados frequentados pelas classes endinheiradas e que selecionam os alunos obtêm melhores notas nos exames – o que é diferente de preparar melhor os jovens estudantes -, mostram também com clareza que as escolas particulares com contratos de associação têm resultados em tudo idênticos aos das escolas públicas da mesma região. Ou seja: a diferença de resultados não depende do modelo de propriedade da escola – pública ou privada – mas sim da classe socioeconómica que a frequenta. A aposta no ensino privado que norteia este governo, traduzida no aumento do financiamento para as escolas particulares previsto no orçamento de Estado, que, contudo, corta substancialmente no ensino público, e na ilusão do cheque-ensino, só pode pois justificar-se por uma cegueira ideológica: tornar a todo o preço o ensino uma mercadoria e pôr os contribuintes a pagar os colégios dos endinheirados e os interesses privados. Não será irracional, mas é profundamente injusto e revoltante.

3. A PACC – prova de avaliação de conhecimento e competências – que Nuno Crato quer impor aos professores contratados é um ato de cobardia. Se o objetivo é melhorar a formação dos docentes, deve o MEC intervir junto das escolas superiores que os formam, avaliá-las e encerrar as que não tenham qualidade. Não o faz porque não quer entrar em choque com poderes instalados. Pode e deve  o MEC organizar uma formação contínua séria, de qualidade e gratuita, como o exige a legislação. Não o faz ou por falta de dinheiro ou por incompetência. Incapaz de fazer o que deve, o MEC quer ir pelo caminho mais simples, embora absurdo - a PACC. 

4. O sectarismo ideológico – a aplicação da cartilha neoliberal de mercadorizar tudo, incluindo a educação - funciona como o cimento que une as forças de direita, permitindo-lhes governar no sentido de acentuar as desigualdades sociais e empobrecer drasticamente a maioria dos portugueses. Pelo contrário, os partidos de esquerda continuam a sobrevalorizar o que os divide, impossibilitando uma alternativa política que trave esta fúria neoliberal. Até quando?