Artigo:Escola Informação Digital Nº 32, setembro 2021

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Estas são as nossas exigências


José Feliciano Costa . Presidente do SPGL


Iniciamos mais um ano letivo, o terceiro desta malfadada pandemia, ano que será, com certeza, ainda diferente do tão desejado “normal”.
O avanço do processo de vacinação vai-nos fazendo acreditar que esta pandemia possa, finalmente, ter os dias contados. O processo está, praticamente, concluído nos adultos e os dados indicam que 74% dos jovens entre os 12 e os 17 anos já receberam, pelo menos, uma dose da vacina e na faixa etária dos 18 aos 24 anos, este número sobe para 82%.
As escolas reabriram com novas diretrizes enviadas pela DGS, as máscaras e o distanciamento social mantêm-se, a testagem em massa, de alunos professores e restantes trabalhadores das escolas, vai, também, decorrendo, o que vem dar razão ao que já há algum tempo defendíamos, mas que o Ministério da Educação considerava desnecessário.
O mesmo não se pode dizer do designado “Plano de Recuperação das Aprendizagens 21|23 Escola +” perdidas nesta pandemia, anunciado com pompa e circunstância, Plano que, depois de dissecado, se percebe que tem muita pompa de fato, mas muito pouca substância.
Este plano, apresentado como a receita infalível para a recuperação das aprendizagens, resume-se, afinal, a um documento insuficiente, dececionante e desprovido de medidas de fundo, nomeadamente, as defendidas e enviadas pela FENPROF em documento entregue atempadamente no ME, ou das posições manifestadas pelas escolas e também pelos representantes dos Diretores dos Centros de Formação. Falamos, por exemplo, da redução do número de alunos por turma, das coadjuvações, do reforço dos docentes da Intervenção precoce ou da aprovação de medidas específicas para o 1.º ciclo.
As escolas vão enfrentar este enorme desafio com os mesmos (escassos) recursos de que dispunham antes da elaboração deste plano.
Outro problema é a já previsível falta de professores; os dados indicam que as escolas já se deparam com enormes dificuldades em recrutar professores para disciplinas como Informática, Geografia, Filosofia, Físico-química, Biologia, Geologia e História e Geografia de Portugal, reflexo de uma profissão que deixou de ser atrativa.
 Dos 2383 docentes que este ano vincularam pela aplicação da lei (a norma travão) devem ser subtraídos os cerca de 2067 que se aposentam previsivelmente até final de 2021.
Este é o drama que vive já a Escola Pública, num quadro em que a percentagem de investimento na Educação, com referência ao Produto Interno Bruto (PIB), tem vindo a decrescer nos últimos anos. Senão, vejamos: ultrapassou os 5% do PIB nos primeiros anos do milénio, está atualmente abaixo dos 4 %, tendo, inclusivamente, atingido o valor mais baixo em 2019 (3,5% do PIB).
Aproxima-se a apresentação da proposta do OE para 2022, quando o de 2021 ainda não foi cumprido. A exigência dos 6 % do PIB para Educação é uma bandeira que temos de manter desfraldada. Esta é uma exigência fundamental que iremos manter. A não acontecer, terá reflexos nefastos no funcionamento das escolas e nos direitos e condições dos seus ativos, os profissionais da educação e claro, os alunos.
Este é o ano da Municipalização da Educação, do indevidamente chamado processo de descentralização de competências, que, mais não é do que recentrar competências que as escolas já tinham, nas autarquias.  Com isto, pretende-se criar um novo patamar na administração educativa, transferindo para os municípios a responsabilidade do investimento na Educação. Tal poderá criar, como é óbvio, um livre-arbítrio, remetendo para cada uma das autarquias a decisão de investir ou não em cada momento, em cada ciclo eleitoral, num setor fundamental da vida nacional - a Educação.
Aproxima-se o 5 de outubro, Dia Mundial do Professor. Os professores vão estar na rua, em Lisboa, para iniciar um novo ciclo, após uma Pandemia que teve efeitos tão perniciosos. Vão voltar à rua e desconfinar a luta, manifestar o seu descontentamento, exigir a resolução das suas questões profissionais, a recuperação da carreira, o respeito pelos horários de trabalho, a negociação de um regime justo de aposentação, o fim da precariedade e um regime de concursos justo, a reversão do processo de municipalização e uma gestão democrática das Escolas.
Estas são as nossas exigências e vamos reafirmá-las no Dia Mundial do Professor. É indispensável dar grande visibilidade ao nosso protesto, exigindo ao Ministério da Educação respeito pela profissão docente.