Artigo:Escola Informação Digital Nº 26, abril 2020

Pastas / Informação / Escola Informação

Os sindicatos têm de ser parceiros
neste processo


José Feliciano Costa . Presidente do SPGL

Caros colegas

Em tempo de confinamento e Ensino@Distância, o sobretrabalho que já existia, duplicou ou até triplicou, para a esmagadora maioria dos professores.
Um professor que tem 100, 200 ou mais alunos, prepara, envia e corrige, semanalmente, centenas de trabalhos; responde a dúvidas dos alunos e dos encarregados de educação, sem hora marcada, pois está à distância de um clique. Trabalha numa miríade de plataformas, dá aulas síncronas e assíncronas, resolve problemas sociais se for diretor de turma e mesmo que não o seja e se tiver cargos na escola, coordena, organiza e resolve.
De facto, são autênticos heróis, como já foi reconhecido. Mas para quê?
É a pergunta que muitos de nós fazemos; de facto, as escolas e os seus professores têm conseguido fazer autênticos milagres, mesmo em condições adversas e não é a primeira vez que o fazem.
Mas será que se justifica, num processo que devia ser apenas de consolidação de conteúdos já lecionados, esta voragem vertiginosa, que se traduz numa total desregulação dos horários de trabalho? Afinal para que serve continuar o “ensino online” quando estas “aulas” até já foram objeto de pirataria informática, expondo e ridicularizando os seus intervenientes, nomeadamente alunos e professores, para servir de passatempo, por exemplo, no Youtube?
O encerramento das escolas colocou, a todos nós, novos desafios e novas exigências. Os professores tiveram que, de uma forma totalmente inesperada e repentina, desenvolver competências informáticas e, paralelamente, fazer um esforço enorme para tentar garantir que todos os seus alunos continuassem a contar com o apoio que sempre tiveram, tarefa impossível de concretizar.
Se a decisão for reabrir as atividades letivas presenciais para o ensino secundário e também para o ensino superior, se a curva epidemiológica o permitir, claro está, serão necessárias medidas que não coloquem em risco nem alunos nem professores. Isso implica negociar com os sindicatos mais representativos dos professores, não só agora, mas também em setembro, no início do próximo ano letivo.
As escolas reabrirão presencialmente em maio, supostamente apenas para os alunos dos 11.º e 12.º anos e as medidas de distanciamento social implicarão, necessariamente, turmas desdobradas; obviamente, tal exige a contratação de mais professores e os espaços escolares terão que ser reorganizados, designadamente as salas de aula, as bibliotecas, os refeitórios, bares, espaços de convívio, entre outros.
No próximo ano letivo, em setembro, colocam-se várias questões às quais terão de ser dadas respostas: Como recuperar os conteúdos atrasados? Como preparar a abertura gradual e o retorno às normalidade, com a forte possibilidade desta abertura provocar um aumento do número de infetados num corpo docente envelhecido? Os sindicatos têm de ser parceiros neste processo de recomeço, é fundamental que as organizações mais representativas dos professores participem ativamente neste processo.

Colegas
Este é o tempo de celebrar Abril, de celebrar aquela madrugada em que um conjunto de homens arriscaram as suas carreiras e as suas vidas para lançar as sementes da esperança de um Portugal mais justo, livre e democrático. Em Maio, celebremos, também, o dia em que o povo saiu à rua para festejar em liberdade o Dia do Trabalhador. No dia 2 de maio, escassos dias após o 25 de Abril, nasce o que viria a ser o maior Sindicato de Professores de todo o país.(1)  

(1) “Em Lisboa, a Comissão Coordenadora dos Grupos de Estudo desenvolve contactos com professores de outros graus de ensino (ensino superior e primário) ligados à luta antifascista, contacta os dirigentes do Sindicato Nacional de Professores de ensino particular, a organização corporativa que representava os professores do ensino particular e que tinha na sua direção professores democratas, e convoca a classe para uma Reunião Geral de Professores no dia 2 de maio, às 21.30, em local que será oportunamente divulgado através dos órgãos de informação, o que foi feito por uma convocatória, divulgada nas escolas de Lisboa e de concelhos limítrofes (a Norte a Sul),mas também do Ribatejo, Alentejo e do Algarve....
A reunião geral, prevista inicialmente para o ginásio da Escola Preparatória Manuel da Maia, em Campo de Ourique, teve de ser transferida para um outro local com maior capacidade, devido à afluência de Milhares de professores que, com o seu peso, ameaçavam fazer colapsar o chão do ginásio, para além de ocuparem todos os espaços circundantes da escola. O local encontrado pela proximidade ( e por ter instalação sonora pronta a funcionar), foi o Pavilhão dos Desportos, que encheu as suas bancadas com os professores participantes numa reunião que começa cerca da meia-noite e termina depois ,  na manhã já de 3 de maio. É esta reunião que marca, oficialmente a fundação do Sindicato de Professores da Zona da Grande Lisboa (SPZGL), mais tarde SPGL.

In “ SPGL - Memórias Partilhadas- 1974 - 1986
A Constituição dos sindicatos dos professores num contexto
de mobilização revolucionária
(1974-1976), Maria Manuel Calvet e António Teodoro